Uma visita ao Tribunal da Inquisição em Lima no Peru, nos faz lembrar de épocas passadas, onde a fé na crença da igreja romana e suas doutrinas eram imposta sob ameaças de tortura e de morte. Por que uma igreja que devia evangelizar pelo amor de Jesus era capaz de cometer tais atos de tortura em nome de Deus? Se bem que muitos condenados pelo tribunal de fato praticavam a bruxaria (fato este ainda assim, injustificável para tal barbárie), a grande maioria foram martirizados apenas por querer guardar o que a Bíblia ensinava e não as doutrinas impostas pelo Papa.

"Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus;
e, quando a vi, admirei-me com grande espanto."
Apocalipse 17:6


segunda-feira, 17 de maio de 2010

Heróis da Fé - A Apostasia


A Apostasia - Trata-se do primeiro de nove capítulos da série Heróis da Fé. O documentário relata a história de verdadeiros hérois reformadores que revolucionaram a Era Cristã. Lutero, Wiclef, Huss, Calvino, Guilherme Miller,entre outros, fazem parte dessa história.

Assista o documentário completo abaixo.

Obs. Após a reprodução da primeira parte, as outras (continuação) serão reproduzidas automaticamente por meio de uma lista de reprodução.



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“Vinga, oh Senhor, os teu santos massacrados, cujos ossos jazem espalhados nas frias montanhas alpinas. 
Eles que guardaram a verdade antiga tão pura, quando nossos pais adoravam troncos e pedras. Não te esqueças, em teu livro gravo os gemidos dos que foram as tuas ovelhas e no seu velho aprisco, mitigados pelos piemonteses sanguinários, que lançaram mães e crianças ao abismo de pedras.
Seus lamentos, os vales repetirão aos montes e estes ao céu."

John Milton (1608-1674)

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***Caso deseje assistir a série completa do Documentário Heróis da Fé, acesse aqui.

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Deus o abençoe.


"SANTA" INQUISIÇÃO ou "SANTO" OFÍCIO




TRIBUNAL ECLESIÁSTICO da INQUISIÇÃO


O Valor dos Mártires

  Quando Jesus revelou a Seus discípulos a sorte de Jerusalém e as cenas do segundo advento, predisse também a experiência de Seu povo desde o tempo em que deveria ser tirado dentre eles até a Sua volta em poder e glória para o seu libertamento. Do Monte das Oliveiras o Salvador contemplou as tempestades prestes a desabar sobre a igreja apostólica; e penetrando mais profundamente no futuro, Seus olhos divisaram os terríveis e devastadores vendavais que deveriam açoitar Seus seguidores nos vindouros séculos de trevas e perseguição. Em poucas e breves declarações de tremendo significado, predisse o que os governadores deste mundo haveriam de impor à igreja de Deus. Mateus 24:9, 21, 22. Os seguidores de Cristo deveriam trilhar a mesma senda de humilhação, ignomínia e sofrimento que seu Mestre palmilhara. A inimizade que irrompera contra o Redentor do mundo, manifestar-se-ia contra todos os que cressem em Seu nome.

  A história da igreja primitiva testificou do cumprimento das palavras do Salvador. Os poderes da Terra e do inferno arregimentaram-se contra Cristo na pessoa de Seus seguidores. O paganismo previa que se o evangelho triunfasse, seus templos e altares desapareciam; portanto convocou suas forças para destruir o cristianismo. Acenderam-se as fogueiras da perseguição. Os cristãos eram despojados de suas posses e expulsos de suas casas. Suportaram “grande combate de aflições.” Hebreus 10:32. “Experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões.” Hebreus 11:36. Grande número deles selaram seu testemunho com o próprio sangue. Nobres e escravos, ricos e pobres, doutos e ignorantes, foram de igual modo mortos sem misericórdia.

   Estas perseguições, iniciadas sob o governo de Nero, aproximadamente ao tempo do martírio de Paulo, continuaram com maior ou menor fúria durante séculos. Os cristãos eram falsamente acusados dos mais hediondos crimes e tidos como a causa das grandes calamidades — fomes, pestes e terremotos. Tornando-se eles objeto do ódio e suspeita popular, prontificaram-se denunciantes, por amor ao ganho, a trair os inocentes. Eram condenados como rebeldes ao império, como inimigos da religião e peste da sociedade. Grande número deles eram lançados às feras ou queimados vivos nos anfiteatros. Alguns eram crucificados, outros cobertos com peles de animais bravios e lançados à arena para serem despedaçados pelos cães. De seu sofrimento muitas vezes se fazia a principal diversão nas festas públicas. Vastas multidões reuniam-se para gozar do espetáculo e saudavam os transes de sua agonia com riso e aplauso.

   Onde quer que procurassem refúgio, os seguidores de Cristo eram caçados como animais. Eram forçados a procurar esconderijo nos lugares desolados e solitários. “Desamparados, aflitos e maltratados (dos quais o mundo não era digno), errantes, pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra.” Hebreus 11:37, 38. As catacumbas proporcionavam abrigo a milhares. Por sob as colinas, fora da cidade de Roma, longas galerias tinham sido feitas através da terra e da rocha; o escuro e complicado trama das comunicações estendia-se quilômetros além dos muros da cidade. Nestes retiros subterrâneos, os seguidores de Cristo sepultavam os seus mortos; e ali também, quando suspeitos e proscritos, encontravam lar. Quando o Doador da vida despertar os que pelejaram o bom combate, muitos que foram mártires por amor de Cristo sairão dessas sombrias cavernas.

   Sob a mais atroz perseguição, estas testemunhas de Jesus conservaram incontaminada a sua fé. Posto que privados de todo conforto, excluídos da luz do Sol, tendo o lar no seio da terra, obscuro mas amigo, não proferiam queixa alguma. Com palavras de fé, paciência e esperança, animavam-se uns aos outros a suportar a privação e angústia. A perda de toda a bênção terrestre não os poderia forçar a renunciar sua crença em Cristo. Provações e perseguição não eram senão passos que os levavam para mais perto de seu descanso e recompensa.

   Como aconteceu aos servos de Deus de outrora, muitos “foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma melhor ressurreição.” Hebreus 11:35. Estes se recordavam das palavras do Mestre, de que, quando perseguidos por amor de Cristo, ficassem muito alegres, pois que grande seria seu galardão no Céu, porque assim tinham sido perseguidos os profetas antes deles. Regozijavam-se de que fossem considerados dignos de sofrer pela verdade, e cânticos de triunfo ascendiam dentre as chamas crepitantes. Pela fé, olhando para cima, viam Cristo e os anjos apoiados sobre as ameias do Céu, contemplando-os com o mais profundo interesse, com aprovação considerando a sua firmeza. Uma voz lhes vinha do trono de Deus: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” Apocalipse 2:10.

   Nulos foram os esforços de Satanás para destruir pela violência a igreja de Cristo. O grande conflito em que os discípulos de Jesus rendiam a vida, não cessava quando estes fiéis porta-estandartes tombavam em seus postos. Com a derrota, venciam. Os obreiros de Deus eram mortos, mas a Sua obra ia avante com firmeza. O evangelho continuava a espalhar-se, e o número de seus aderentes a aumentar. Penetrou em regiões que eram inacessíveis, mesmo às águias romanas. Disse um cristão, contendendo com os governadores pagãos que estavam a impulsionar a perseguição: Podeis “matar-nos, torturar-nos condenar-nos. ... Vossa injustiça é prova de que somos inocentes. ... Tampouco vossa crueldade... vos aproveitará.” Não era senão um convite mais forte para se levarem outros à mesma persuasão. “Quanto mais somos ceifados por vós, tanto mais crescemos em número; o sangue dos cristãos é semente.” — Apologia, de Tertuliano, parágrafo 50.

   Milhares eram aprisionados e mortos, mas outros surgiam para ocupar as vagas. E os que eram martirizados por sua fé tornavam-se aquisição de Cristo, por Ele tidos na conta de vencedores. Haviam pelejado o bom combate, e deveriam receber a coroa de glória quando Cristo viesse. Os sofrimentos que suportavam, levavam os cristãos mais perto uns dos outros e de seu Redentor. Seu exemplo em vida, e seu testemunho ao morrerem, eram constante atestado à verdade; e, onde menos se esperava, os súditos de Satanás estavam deixando o seu serviço e alistando-se sob a bandeira de Cristo.

   Satanás, portanto, formulou seus planos para guerrear com mais êxito contra o governo de Deus, hasteando sua bandeira na igreja cristã. Se os seguidores de Cristo pudessem ser enganados e levados a desagradar a Deus, falhariam então sua força, poder e firmeza, e eles cairiam como presa fácil.

   O grande adversário se esforçou então por obter pelo artifício aquilo que não lograra alcançar pela força. Cessou a perseguição, e em seu lugar foi posta a perigosa sedução da prosperidade temporal e honra mundana. Levavam-se idólatras a receber parte da fé cristã, enquanto rejeitavam outras verdades essenciais. Professavam aceitar a Jesus como o Filho de Deus e crer em Sua morte e ressurreição; mas não tinham a convicção do pecado e não sentiam necessidade de arrependimento ou de uma mudança de coração. Com algumas concessões de sua parte, propuseram que os cristãos fizessem outras também, para que todos pudessem unir-se sob a plataforma da crença em Cristo.

   A igreja naquele tempo encontrava-se em terrível perigo. Prisão, tortura, fogo e espada eram bênçãos em comparação com isto. Alguns dos cristãos permaneceram firmes, declarando que não transigiriam. Outros eram favoráveis a que cedessem, ou modificassem alguns característicos de sua fé, e se unissem aos que haviam aceito parte do cristianismo, insistindo em que este poderia ser o meio para a completa conversão. Foi um tempo de profunda angústia para os fiéis seguidores de Cristo. Sob a capa de pretenso cristianismo, Satanás se estava insinuando na igreja a fim de corromper-lhe a fé e desviar-lhe a mente da Palavra da verdade.

   A maioria dos cristãos finalmente consentiu em baixar a norma, formando-se uma união entre o cristianismo e o paganismo. Posto que os adoradores de ídolos professassem estar convertidos e unidos à igreja, apegavam-se ainda à idolatria, mudando apenas os objetos de culto pelas imagens de Jesus, e mesmo de Maria e dos santos. O fermento vil da idolatria, assim trazido para a igreja, continuou a obra funesta. Doutrinas errôneas, ritos supersticiosos e cerimônias idolátricas foram incorporados em sua fé e culto. Unindo-se os seguidores de Cristo aos idólatras, a religião cristã se tornou corrupta e a igreja perdeu sua pureza e poder. Alguns houve, entretanto, que não foram transviados por esses enganos. Mantinham-se ainda fiéis ao Autor da verdade, e adoravam a Deus somente.

   Sempre tem havido duas classes entre os que professam ser seguidores de Cristo. Enquanto uma dessas classes estuda a vida do Salvador e fervorosamente procura corrigir seus defeitos e conformar-se com o Modelo, a outra evita as claras e práticas verdades que lhes expõem os erros. Mesmo em sua melhor condição a igreja não se compôs unicamente dos verdadeiros, puros e sinceros. Nosso Salvador ensinou que os que voluntariamente condescendem com o pecado não devem ser recebidos na igreja; todavia ligou a Si homens que eram falhos de caráter e concedeu-lhes os benefícios de Seus ensinos e exemplos, para que tivessem oportunidade de ver seus erros e corrigi-los. Entre os doze apóstolos havia um traidor. Judas foi aceito, não por causa de seus defeitos de caráter mas apesar deles. Foi ligado aos discípulos para que, pela instrução e exemplo de Cristo, pudesse aprender o que constitui o caráter cristão e assim ser levado a ver seus erros, para arrepender-se e, pelo auxílio da graça divina, purificar a alma “na obediência à verdade.” Mas Judas não andou na luz que tão misericordiosamente foi permitido brilhasse sobre ele. Pela condescendência com o pecado, atraiu as tentações de Satanás. Seus maus traços de caráter se tornaram predominantes. Rendeu a mente à direção dos poderes das trevas, irava-se quando suas faltas eram reprovadas, sendo assim levado a cometer o terrível crime de trair o Mestre. Assim todos os que acariciam o mal sob profissão de piedade, odeiam os que lhes perturbam a paz condenando seu caminho de pecado. Quando se apresenta oportunidade favorável, eles, semelhantes a Judas, traem aos que para seu bem procuram reprová-los.

   Os apóstolos encontraram na igreja os que professavam piedade, ao mesmo tempo em que secretamente acariciavam a iniqüidade. Ananias e Safira desempenharam o papel de enganadores pretendendo fazer sacrifício total a Deus, quando cobiçosamente estavam retendo uma parte para si. O Espírito da verdade revelou aos apóstolos o caráter real desses impostores, e os juízos de Deus livraram a igreja dessa detestável mancha em sua pureza. Esta assinalada evidência do discernidor Espírito de Cristo na igreja foi um terror para os hipócritas e malfeitores. Não mais poderiam permanecer em ligação com aqueles que eram, em hábitos e disposição, invariáveis representantes de Cristo; e, quando as provações e perseguições sobrevieram a Seus seguidores, apenas os que estavam dispostos a abandonar tudo por amor à verdade desejaram tornar-se Seus discípulos. Assim, enquanto durou a perseguição, a igreja permaneceu comparativamente pura. Mas, cessando aquela, acrescentaram-se conversos que eram menos sinceros e devotados, e abriu-se o caminho para Satanás tomar pé.

   Não há, porém, união entre o Príncipe da luz e o príncipe das trevas, e nenhuma conivência poderá haver entre os seus seguidores. Quando os cristãos consentiram em unir-se àqueles que não eram senão semiconversos do paganismo, enveredaram por caminho que levaria mais e mais longe da verdade. Satanás exultou em haver conseguido enganar tão grande número dos seguidores de Cristo. Levou então seu poder a agir de modo mais completo sobre eles, e os inspirou a perseguir aqueles que permaneceram fiéis a Deus. Ninguém compreendeu tão bem como se opor à verdadeira fé cristã como os que haviam sido seus defensores; e estes cristãos apóstatas, unindo-se aos companheiros semipagãos, dirigiram seus ataques contra os característicos mais importantes das doutrinas de Cristo.

   Foi necessária uma luta desesperada por parte daqueles que desejavam ser fiéis, permanecendo firmes contra os enganos e abominações que se disfarçavam sob as vestes sacerdotais e se introduziram na igreja. A Escritura Sagrada não era aceita como a norma de fé. A doutrina da liberdade religiosa era chamada heresia, sendo odiados e proscritos seus mantenedores.

   Depois de longo e tenaz conflito, os poucos fiéis decidiram-se a dissolver toda união com a igreja apóstata, caso ela ainda recusasse libertar-se da falsidade e idolatria. Viram que a separação era uma necessidade absoluta se desejavam obedecer à Palavra de Deus. Não ousavam tolerar erros fatais a sua própria alma, e dar exemplo que pusesse em perigo a fé de seus filhos e netos. Para assegurar a paz e a unidade, estavam prontos a fazer qualquer concessão coerente com a fidelidade para com Deus, mas acharam que mesmo a paz seria comprada demasiado caro com sacrifício dos princípios. Se a unidade só se pudesse conseguir comprometendo a verdade e a justiça, seria preferível que prevalecessem as diferenças e as conseqüentes lutas.

   Bom seria à igreja e ao mundo se os princípios que atuavam naquelas almas inabaláveis revivessem no coração do professo povo de Deus. Há alarmante indiferença em relação às doutrinas que são as colunas da fé cristã. Ganha terreno a opinião de que, em última análise, não são de importância vital. Esta degenerescência está fortalecendo as mãos dos agentes de Satanás, de modo que falsas teorias e enganos fatais, que os fiéis dos séculos passados expunham e combatiam com riscos da própria vida, são hoje considerados com favor por milhares que pretendem ser seguidores de Cristo.

Os primitivos cristãos eram na verdade um povo peculiar. Sua conduta irrepreensível e fé invariável eram contínua reprovação a perturbar a paz dos pecadores. Se bem que poucos, sem riqueza, posição ou títulos honoríficos, constituíam um terror para os malfeitores onde quer que seu caráter e doutrina fossem conhecidos. Eram, portanto, odiados pelos ímpios, assim como Abel o foi pelo ímpio Caim. Pela mesma razão por que Caim matou Abel, os que procuravam repelir a restrição do Espírito Santo mataram o povo de Deus. Pelo mesmo motivo foi que os judeus rejeitaram e crucificaram o Salvador: porque a pureza e santidade de Seu caráter eram repreensão constante ao egoísmo e corrupção deles. Desde os dias de Cristo até hoje, os fiéis discípulos têm suscitado ódio e oposição dos que amam e seguem os caminhos do pecado.

   Como, pois, pode o evangelho ser chamado mensagem de paz? Quando Isaías predisse o nascimento do Messias, conferiu-Lhe o título de “Príncipe da Paz.” Quando os anjos anunciaram aos pastores que Cristo nascera, cantaram sobre as planícies de Belém: “Glória a Deus nas alturas, paz na Terra, boa vontade para com os homens.” Lucas 2:14. Há uma aparente contradição entre estas declarações proféticas e as palavras de Cristo: “Não vim trazer paz, mas espada.” Mateus 10:34. Mas, entendidas corretamente, ambas estão em perfeita harmonia. O evangelho é uma mensagem de paz. O cristianismo é um sistema religioso que, recebido e obedecido, espalharia paz, harmonia e felicidade por toda a Terra. A religião de Cristo ligará em íntima fraternidade todos os que lhe aceitarem os ensinos. Foi missão de Jesus reconciliar os homens com Deus, e assim uns com os outros. Mas o mundo em grande parte se acha sob o domínio de Satanás, o acérrimo adversário de Cristo. O evangelho apresenta-lhes princípios de vida que se acham totalmente em desacordo com seus hábitos e desejos, e eles se erguem em rebelião contra ele. Odeiam a pureza que lhes revela e condena os pecados, e perseguem e destroem os que com eles insistem em suas justas e santas reivindicações. É neste sentido que o evangelho é chamado uma espada, visto que as elevadas verdades que traz ocasionam o ódio e a contenda.

   A misteriosa providência que permite sofrerem os justos perseguição às mãos dos ímpios, tem sido causa de grande perplexidade a muitos que são fracos na fé. Alguns se dispõem mesmo a lançar de si a confiança em Deus, por permitir Ele que os mais vis dos homens prosperem, enquanto os melhores e mais puros são afligidos e atormentados pelo cruel poder daqueles. Como, pergunta-se, pode Aquele que é justo e misericordioso, e que também é de poder infinito, tolerar tal injustiça e opressão? É esta uma questão com que nada temos que ver. Deus deu suficientes evidências de Seu amor, e não devemos duvidar de Sua bondade por não podermos compreender a operação de Sua providência. Disse o Salvador a Seus discípulos, prevendo as dúvidas que lhes oprimiriam a alma nos dias de provação e trevas: “Lembrai-vos da palavra que vos disse: Não é o servo maior do que o seu Senhor. Se a Mim Me perseguiram, também vos perseguirão a vós.” João 15:20. Jesus sofreu por nós mais do que qualquer de Seus seguidores poderá sofrer pela crueldade de homens ímpios. Os que são chamados a suportar a tortura e o martírio não estão senão seguindo as pegadas do dileto Filho de Deus.

   “O Senhor não retarda a Sua promessa.” 2 Pedro 3:9. Ele não Se esquece de Seus filhos, nem os negligencia; mas permite que os ímpios revelem seu verdadeiro caráter, para que ninguém que deseje fazer a Sua vontade possa ser iludido com relação a eles. Outrossim, os justos são postos na fornalha da aflição para que eles próprios possam ser purificados, para que seu exemplo possa convencer a outros da realidade da fé e piedade, e também para que sua coerente conduta possa condenar os ímpios e incrédulos.

   Deus permite que os ímpios prosperem e revelem inimizade para com Ele, a fim de que, quando encherem a medida de sua iniqüidade, todos possam, em sua completa destruição, ver a justiça e misericórdia divinas. Apressa-se o dia de Sua vingança, no qual todos os que transgrediram a lei divina e oprimiram o povo de Deus receberão a justa recompensa de suas ações; em que todo ato de crueldade e injustiça para com os fiéis será punido como se fosse feito ao próprio Cristo.

   Há outra questão mais importante que deveria ocupar a atenção das igrejas de hoje. O apóstolo Paulo declara que “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições.” 2 Timóteo 3:12. Por que é, pois, que a perseguição, em grande parte, parece adormentada? A única razão é que a igreja se conformou com a norma do mundo, e portanto não suscita oposição. A religião que em nosso tempo prevalece não é do caráter puro e santo que assinalou a fé cristã nos dias de Cristo e Seus apóstolos. É unicamente por causa do espírito de transigência com o pecado, por serem as grandes verdades da Palavra de Deus tão indiferentemente consideradas, por haver tão pouca piedade vital na igreja, que o cristianismo, é aparentemente tão popular no mundo. Haja um reavivamento da fé e poder da igreja primitiva, e o espírito de opressão reviverá, reacendendo-se as fogueiras da perseguição. (O Grande Conflito, p. 39-48, de Ellen Gould White)





TRIBUNAL ECLESIÁSTICO da INQUISIÇÃO


Como Começaram as Trevas Morais

   O apóstolo Paulo, em sua segunda carta aos tessalonicenses, predisse a grande apostasia que teria como resultado o estabelecimento do poder papal. Declarou que o dia de Cristo não viria “sem que antes venha a apostasia, e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição; o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus, ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus.” 2 Tessalonicenses 2:3, 4. E, ainda mais, o apóstolo adverte os irmãos de que “já o mistério da injustiça opera.” 2 Tessalonicenses 2:7. Mesmo naqueles primeiros tempos viu ele, insinuando-se na igreja, erros que preparariam o caminho para o desenvolvimento do papado.

   Pouco a pouco, a princípio furtiva e silenciosamente, e depois mais às claras, à medida em que crescia em força e conquistava o domínio da mente das pessoas, o mistério da iniqüidade levou avante sua obra de engano e blasfêmia. Quase imperceptivelmente os costumes do paganismo tiveram ingresso na igreja cristã. O espírito de transigência e conformidade fora restringido durante algum tempo pelas terríveis perseguições que a igreja suportou sob o paganismo. Mas, em cessando a perseguição e entrando o cristianismo nas cortes e palácios dos reis, pôs ela de lado a humilde simplicidade de Cristo e Seus apóstolos, em troca da pompa e orgulho dos sacerdotes e governadores pagãos; e em lugar das ordenanças de Deus colocou teorias e tradições humanas. A conversão nominal de Constantino, na primeira parte do século IV, causou grande regozijo; e o mundo, sob o manto de justiça aparente, introduziu-se na igreja. Progredia rapidamente a obra de corrupção. O paganismo, conquanto parecesse suplantado, tornou-se o vencedor. Seu espírito dominava a igreja. Suas doutrinas, cerimônias e superstições incorporaram-se à fé e culto dos professos seguidores de Cristo.

   Esta mútua transigência entre o paganismo e o cristianismo resultou no desenvolvimento do “homem do pecado”, predito na profecia como se opondo a Deus e exaltando-se sobre Ele. Aquele gigantesco sistema de religião falsa é a obra-prima do poder de Satanás — monumento de seus esforços para sentar-se sobre o trono e governar a Terra segundo a sua vontade.

   Uma vez Satanás se esforçou por estabelecer um compromisso mútuo com Cristo. Chegando-se ao Filho de Deus no deserto da tentação, e mostrando-Lhe todos os reinos do mundo e a glória dos mesmos, ofereceu-se a entregar tudo em Suas mãos se tão-somente reconhecesse a supremacia do príncipe das trevas. Cristo repreendeu o pretensioso tentador e obrigou-o a retirar-se. Mas Satanás obtém maior êxito em apresentar ao homem as mesmas tentações. Para conseguir proveitos e honras humanas, a igreja foi levada a buscar o favor e apoio dos grandes homens da Terra; e, havendo assim rejeitado a Cristo, foi induzida a prestar obediência ao representante de Satanás — o bispo de Roma.

   Uma das principais doutrinas do romanismo é que o papa é a cabeça visível da igreja universal de Cristo, investido de autoridade suprema sobre os bispos e pastores em todas as partes do mundo. Mais do que isto, tem-se dado ao papa os próprios títulos da Divindade. Tem sido intitulado: “Senhor Deus, o Papa”, e foi declarado infalível. Exige ele a homenagem de todos os homens. A mesma pretensão em que insistia Satanás no deserto da tentação, ele ainda a encarece mediante a igreja de Roma, e enorme número de pessoas estão prontas para render-lhe homenagem.

   Mas os que temem e reverenciam a Deus enfrentam esta audaciosa presunção do mesmo modo porque Cristo enfrentou as solicitações do insidioso adversário: “Adorarás ao Senhor teu Deus, e a Ele somente servirás.” Lucas 4:8. Deus jamais deu em Sua Palavra a mínima sugestão de que tivesse designado a algum homem para ser a cabeça da igreja. A doutrina da supremacia papal opõe-se diretamente aos ensinos das Escrituras Sagradas. O papa não pode ter poder algum sobre a igreja de Cristo, senão por usurpação.

   Os romanistas têm persistido em acusar os protestantes de heresia e voluntária separação da verdadeira igreja. Semelhantes acusações, porém, aplicam-se antes a eles próprios. São eles os que depuseram a bandeira de Cristo, e se afastaram da “fé que uma vez foi dada aos santos.” Jud. 3.

   Satanás bem sabia que as Escrituras Sagradas habilitariam os homens a discernir seus enganos e resistir a seu poder. Foi pela Palavra que mesmo o Salvador do mundo resistiu a seus ataques. Em cada assalto Cristo apresentou o escudo da verdade eterna, dizendo: “Está escrito.” A cada sugestão do adversário, opunha a sabedoria e poder da Palavra. A fim de Satanás manter o seu domínio sobre os homens e estabelecer a autoridade humana, deveria conservá-los na ignorância das Escrituras. A Bíblia exaltaria a Deus e colocaria o homem finito em sua verdadeira posição; portanto, suas sagradas verdades deveriam ser ocultadas e suprimidas. Esta lógica foi adotada pela Igreja de Roma. Durante séculos a circulação da Escritura foi proibida. Ao povo era vedado lê-la ou tê-la em casa, e sacerdotes e prelados sem escrúpulos interpretavam-lhe os ensinos de modo a favorecerem suas pretensões. Assim o chefe da igreja veio a ser quase universalmente reconhecido como o vigário de Deus na Terra, dotado de autoridade sobre a igreja e o Estado.

   Suprimido o revelador do erro, agiu Satanás à vontade. A profecia declarara que o papado havia de cuidar “em mudar os tempos e a lei.” Daniel 7:25. Para cumprir esta obra não foi vagaroso. A fim de proporcionar aos conversos do paganismo uma substituição à adoração de ídolos, e promover assim sua aceitação nominal do cristianismo, foi gradualmente introduzida no culto cristão a adoração das imagens e relíquias. O decreto de um concílio geral estabeleceu, por fim, este sistema de idolatria. Para completar a obra sacrílega, Roma pretendeu eliminar da lei de Deus, o segundo mandamento, que proíbe o culto das imagens, e dividir o décimo mandamento a fim de conservar o número deles.

Este espírito de concessão ao paganismo abriu caminho para desrespeito ainda maior da autoridade do Céu. Satanás, operando por meio de não consagrados dirigentes da igreja, intrometeu-se também com o quarto mandamento e tentou pôr de lado o antigo sábado, o dia que Deus tinha abençoado e santificado (Gênesis 2:2, 3), exaltando em seu lugar a festa observada pelos pagãos como “o venerável dia do Sol.” Esta mudança não foi a princípio tentada abertamente. Nos primeiros séculos o verdadeiro sábado foi guardado por todos os cristãos. Eram estes ciosos da honra de Deus, e, crendo que Sua lei é imutável, zelosamente preservavam a santidade de seus preceitos. Mas com grande argúcia, Satanás operava mediante seus agentes para efetuar seu objetivo. Para que a atenção do povo pudesse ser chamada para o domingo, foi feito deste uma festividade em honra da ressurreição de Cristo. Atos religiosos eram nele realizados; era, porém, considerado como dia de recreio, sendo o sábado ainda observado como dia santificado.

   A fim de preparar o caminho para a obra que intentava cumprir, Satanás induzira os judeus, antes do advento de Cristo, a sobrecarregarem o sábado com as mais rigorosas imposições, tornando sua observância um fardo. Agora, tirando vantagem da falsa luz sob a qual ele assim fizera com que fosse considerado, lançou o desdém sobre o sábado como instituição judaica. Enquanto os cristãos geralmente continuavam a observar o domingo como festividade prazenteira, ele os levou, a fim de mostrarem seu ódio ao judaísmo, a fazer do sábado dia de jejum, de tristeza e pesar.

   Na primeira parte do século IV, o imperador Constantino promulgou um decreto fazendo do domingo uma festividade pública em todo o Império Romano. O dia do Sol era venerado por seus súditos pagãos e honrado pelos cristãos; era política do imperador unir os interesses em conflito do paganismo e cristianismo. Com ele se empenharam para fazer isto os bispos da igreja, os quais, inspirados pela ambição e sede do poder, perceberam que, se o mesmo dia fosse observado tanto por cristãos como pagãos, promoveria a aceitação nominal do cristianismo pelos pagãos, e assim adiantaria o poderio e glória da igreja. Mas, conquanto muitos cristãos tementes a Deus fossem gradualmente levados a considerar o domingo como possuindo certo grau de santidade, ainda mantinham o verdadeiro sábado como o dia santo do Senhor, e observavam-no em obediência ao quarto mandamento.

   O arquienganador não havia terminado a sua obra. Estava decidido a congregar o mundo cristão sob sua bandeira, e exercer o poder por intermédio de seu vigário, o orgulhoso pontífice que pretendia ser o representante de Cristo. Por meio de pagãos semiconversos, ambiciosos prelados e eclesiásticos amantes do mundo, realizou ele seu propósito. Celebravam-se de tempos em tempos vastos concílios aos quais do mundo todo concorriam os dignitários da igreja. Em quase todos os concílios o sábado que Deus havia instituído era rebaixado um pouco mais, enquanto o domingo era em idêntica proporção exaltado. Destarte a festividade pagã veio finalmente a ser honrada como instituição divina, ao mesmo tempo em que se declarava ser o sábado bíblico relíquia do judaísmo, amaldiçoando-se seus observadores.

   O grande apóstata conseguira exaltar-se “contra tudo o que se chama Deus, ou se adora.” 2 Tessalonicenses 2:4. Ousara mudar o único preceito da lei divina que inequivocamente indica a toda a humanidade o Deus verdadeiro e vivo. No quarto mandamento Deus é revelado como o Criador do céu e da Terra, e por isso Se distingue de todos os falsos deuses. Foi para memória da obra da criação que o sétimo dia foi santificado como dia de repouso para o homem. Destinava-se a conservar o Deus vivo sempre diante da mente humana como a fonte de todo ser e objeto de reverência e culto. Satanás esforça-se por desviar os homens de sua aliança para com Deus e de prestarem obediência à Sua lei; dirige Seus esforços, portanto, especialmente contra o mandamento que aponta a Deus como o Criador.

   Os protestantes hoje insistem em que a ressurreição de Cristo no domingo fê-lo o sábado cristão. Não existe, porém, evidência escriturística para isto. Nenhuma honra semelhante foi conferida ao dia por Cristo ou Seus apóstolos. A observância do domingo como instituição cristã teve origem no “mistério da injustiça” (2 Tessalonicenses 2:7) que, já no tempo de Paulo, começara a sua obra. Onde e quando adotou o Senhor este filho do papado? Que razão poderosa se poderá dar para uma mudança que as Escrituras não sancionam?

   No século VI tornou-se o papado firmemente estabelecido. Fixou-se a sede de seu poderio na cidade imperial e declarou-se ser o bispo de Roma a cabeça de toda a igreja. O paganismo cedera lugar ao papado. O dragão dera à besta “o seu poder, e o seu trono, e grande poderio.” Apocalipse 13:2. E começaram então os 1.260 anos da opressão papal preditos nas profecias de Daniel e Apocalipse. Daniel 7:25; Apocalipse 13:5-7. Os cristãos foram obrigados a optar entre renunciar sua integridade e aceitar as cerimônias e culto papais, ou passar a vida nas masmorras, sofrer a morte pelo instrumento de tortura, pela fogueira, ou pela machadinha do verdugo. Cumpriam-se as palavras de Jesus: “E até pelos pais, e irmãos, e parentes, e amigos sereis entregues, e matarão alguns de vós. E de todos sereis odiados por causa de Meu nome.” Lucas 21:16, 17.

   Desencadeou-se a perseguição sobre os fiéis com maior fúria do que nunca, e o mundo se tornou um vasto campo de batalha. Durante séculos a igreja de Cristo encontrou refúgio no isolamento e obscuridade. Assim diz o profeta: “A mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil e duzentos e sessenta dias.” Apocalipse 12:6.

   O acesso da Igreja de Roma ao poder assinalou o início da escura Idade Média. Aumentando o seu poderio, mais se adensavam as trevas. De Cristo, o verdadeiro fundamento, transferiu-se a fé para o papa de Roma. Em vez de confiar no Filho de Deus para o perdão dos pecados e para a salvação eterna, o povo olhava para o papa e para os sacerdotes e prelados a quem delegava autoridade. Ensinava-se-lhe ser o papa seu mediador terrestre, e que ninguém poderia aproximar-se de Deus senão por seu intermédio; e mais ainda, que ele ficava para eles em lugar de Deus e deveria, portanto, ser implicitamente obedecido. Esquivar-se de suas disposições era motivo suficiente para se infligir a mais severa punição ao corpo e alma dos delinqüentes. Assim, a mente do povo desviava-se de Deus para homens falíveis e cruéis, e mais ainda, para o próprio príncipe das trevas que por meio deles exercia o seu poder. O pecado se disfarçava sob o manto de santidade. Quando as Escrituras são suprimidas e o homem vem a considerar-se supremo, só podemos esperar fraudes, engano e aviltante iniqüidade. Com a elevação das leis e tradições humanas, tornou-se manifesta a corrupção que sempre resulta de se pôr de lado a lei de Deus.

Dias de perigo foram aqueles para a igreja de Cristo. Os fiéis porta-estandartes eram na verdade poucos. Posto que a verdade não fosse deixada sem testemunhas, parecia, por vezes, que o erro e a superstição prevaleceriam completamente, e a verdadeira religião seria banida da Terra. Perdeu-se de vista o evangelho, mas multiplicaram-se as formas de religião, e o povo foi sobrecarregado de severas exigências.

   Ensinava-se-lhes não somente a considerar o papa como seu mediador, mas a confiar em suas próprias obras para expiação do pecado. Longas peregrinações, atos de penitência, adoração de relíquias, ereção de igrejas, relicários e altares, bem como pagamento de grandes somas à igreja, tudo isto e muitos atos semelhantes eram ordenados para aplacar a ira de Deus ou assegurar o Seu favor, como se Deus fosse idêntico aos homens, encolerizando-Se por ninharias, ou apaziguando-Se com donativos ou atos de penitência!

   Apesar de que prevalecesse o vício, mesmo entre os chefes da Igreja de Roma, sua influência parecia aumentar constantemente. Mais ou menos ao findar o século VIII, os romanistas começaram a sustentar que nas primeiras épocas da igreja os bispos de Roma tinham possuído o mesmo poder espiritual que assumiam agora. Para confirmar essa pretensão, era preciso empregar alguns meios com o fito de lhe dar aparência de autoridade; e isto foi prontamente sugerido pelo pai da mentira. Antigos escritos foram forjados pelos monges. Decretos de concílios de que antes nada se ouvira foram descobertos, estabelecendo a supremacia universal do papa desde os primeiros tempos. E a igreja que rejeitara a verdade, avidamente aceitou estes enganos.

   Os poucos fiéis que construíram sobre o verdadeiro fundamento (1 Coríntios 3:10, 11), ficaram perplexos e entravados quando o entulho das falsas doutrinas obstruiu a obra. Como os edificadores sobre o muro de Jerusalém no tempo de Neemias, alguns se prontificaram a dizer: “Já desfaleceram as forças dos acarretadores, e o pó é muito e nós não podemos edificar o muro.” Neemias 4:10. Cansados da constante luta contra a perseguição, fraude, iniqüidade e todos os outros obstáculos que Satanás pudera engendrar para deter-lhes o progresso, alguns que haviam sido fiéis edificadores, desanimaram; e por amor da paz e segurança de sua propriedade e vida, desviaram-se do verdadeiro fundamento. Outros, sem se intimidarem com a oposição de seus inimigos, intrepidamente declaravam: “Não os temais: lembrai-vos do Senhor grande e terrível” (Neemias 4:14); e prosseguiam com a obra, cada qual com a espada cingida ao lado. Efésios 1:17.

   O mesmo espírito de ódio e oposição à verdade tem inspirado os inimigos de Deus em todos os tempos, e a mesma vigilância e fidelidade têm sido exigidas de Seus servos. As palavras de Cristo aos primeiros discípulos aplicam-se aos Seus seguidores até ao final do tempo: “E as coisas que vos digo, digo-as a todos: Vigiai.” Marcos 13:37.

   As trevas pareciam tornar-se mais densas. Generalizou-se a adoração das imagens. Acendiam-se velas perante imagens e orações se lhes dirigiam. Prevaleciam os costumes mais absurdos e supersticiosos. O espírito dos homens era a tal ponto dirigido pela superstição que a razão mesma parecia haver perdido o domínio. Enquanto os próprios sacerdotes e bispos eram amantes do prazer, sensuais e corruptos, só se poderia esperar que o povo que os tinha como guias se submergisse na ignorância e vício.

   Outro passo ainda deu a presunção papal quando, no século XI, o Papa Gregório VII proclamou a perfeição da Igreja de Roma. Entre as proposições por ele apresentadas uma havia declarando que a igreja nunca tinha errado, nem jamais erraria, segundo as Escrituras. Mas as provas escriturísticas não acompanhavam a afirmação. O altivo pontífice também pretendia o poder de depor imperadores; e declarou que sentença alguma que pronunciasse poderia ser revogada por quem quer que fosse, mas era prerrogativa sua revogar as decisões de todos os outros.

   Uma flagrante ilustração do caráter tirânico do Papa Gregório VII se nos apresenta no modo por que tratou o imperador alemão Henrique IV. Por haver intentado desprezar a autoridade do papa, declarou-o este excomungado e destronado. Aterrorizado pela deserção e ameaças de seus próprios príncipes, que por mandado do papa eram incentivados na rebelião contra ele, Henrique pressentiu a necessidade de fazer as pazes com Roma. Em companhia da esposa e de um servo fiel, atravessou os Alpes em pleno inverno, a fim de humilhar-se perante o papa. Chegando ao castelo para onde Gregório se retirara, foi conduzido, sem seus guardas, a um pátio externo, e ali, no rigoroso frio do inverno, com a cabeça descoberta, descalço e miseravelmente vestido, esperou a permissão do papa a fim de ir à sua presença. O pontífice não se dignou de conceder-lhe perdão senão depois de haver ele permanecido três dias jejuando e fazendo confissão. Isso mesmo, apenas com a condição de que o imperador esperasse a sanção do papa antes de reassumir as insígnias ou exercer o poder da realeza. E Gregório, envaidecido com seu triunfo, jactava-se de que era seu dever abater o orgulho dos reis.

   Quão notável é o contraste entre o orgulho deste altivo pontífice e a mansidão e a suavidade de Cristo, que representa a Si mesmo à porta do coração a rogar que seja ali admitido, a fim de poder entrar para levar perdão e paz, e que ensinou a Seus discípulos: “Qualquer que entre vós quiser ser o primeiro seja vosso servo.” Mateus 20:27.

   Os séculos que se seguiram testemunharam aumento constante de erros nas doutrinas emanadas de Roma. Mesmo antes do estabelecimento do papado, os ensinos dos filósofos pagãos haviam recebido atenção e exercido influência na igreja. Muitos que se diziam conversos ainda se apegavam aos dogmas de sua filosofia pagã, e não somente continuaram no estudo desta, mas encareciam-no a outros como meio de estenderem sua influência entre os pagãos. Erros graves foram assim introduzidos na fé cristã. Destaca-se entre outros o da crença na imortalidade natural do homem e sua consciência na morte. Esta doutrina lançou o fundamento sobre o qual Roma estabeleceu a invocação dos santos e a adoração da Virgem Maria. Disto também proveio a heresia do tormento eterno para os que morrem impenitentes, a qual logo de início se incorporara à fé papal.

   Achava-se então preparado o caminho para a introdução de ainda outra invenção do paganismo, a que Roma intitulou purgatório e empregou para amedrontar as multidões crédulas e supersticiosas. Com esta heresia afirma-se a existência de um lugar de tormento, no qual as almas dos que não mereceram condenação eterna devem sofrer castigo por seus pecados, e do qual, quando libertas da impureza, são admitidas no Céu.

   Ainda uma outra invencionice era necessária para habilitar Roma a aproveitar-se dos temores e vícios de seus adeptos. Esta foi suprida pela doutrina das indulgências. Completa remissão dos pecados, passados, presentes e futuros, e livramento de todas as dores e penas em que os pecados importam, eram prometidos a todos os que se alistassem nas guerras do pontífice para estender seu domínio temporal, castigar seus inimigos e exterminar os que ousassem negar-lhe a supremacia espiritual. Ensinava-se também ao povo que, pelo pagamento de dinheiro à igreja, poderia livrar-se do pecado e igualmente libertar as almas de seus amigos falecidos que estivessem condenados às chamas atormentadoras. Por esses meios Roma abarrotou os cofres e sustentou a magnificência, o luxo e os vícios dos pretensos representantes dAquele que não tinha onde reclinar a cabeça.

   A ordenança escriturística da ceia do Senhor fora suplantada pelo idolátrico sacrifício da missa. Sacerdotes papais pretendiam, mediante esse disfarce destituído de sentido, converter o simples pão e vinho no verdadeiro “corpo e sangue de Cristo.” — Conferências Sobre a “Presença Real”, do Cardeal Wiseman. Com blasfema presunção pretendiam abertamente o poder de criarem Deus, o Criador de todas as coisas. Aos cristãos exigia-se, sob pena de morte, confessar sua fé nesta heresia horrível, que insulta ao Céu. Multidões que a isto se recusaram foram entregues às chamas. (O Grande Conflito, p. 49-59, de Ellen Gould White)





TRIBUNAL ECLESIÁSTICO da INQUISIÇÃO


O Estabelecimento da Inquisição

   No século XIII foi estabelecido a mais terrível de todas as armadilhas do papado — a inquisição. O príncipe das trevas trabalhava com os dirigentes da hierarquia papal. Em seus concílios secretos, Satanás e seus anjos dirigiam a mente de homens maus, enquanto, invisível entre eles, estava um anjo de Deus, fazendo o tremendo relatório de seus iníquos decretos e escrevendo a história de ações por demais horrorosas para serem desvendadas ao olhar humano. “A grande Babilônia” estava “embriagada do sangue dos santos.” Os corpos mutilados de milhões de mártires pediam vingança a Deus contra o poder apóstata.

   O papado se tornou o déspota do mundo. Reis e imperadores curvavam-se aos decretos do pontífice romano. O destino dos homens, tanto temporal como eterno, parecia estar sob seu domínio. Durante séculos as doutrinas de Roma tinham sido extensa e implicitamente recebidas, seus ritos reverentemente praticados, suas festas geralmente observadas. Seu clero era honrado e liberalmente mantido. Nunca a Igreja de Roma atingiu maior dignidade, magnificência ou poder.

   Mas “o meio-dia do papado foi a meia-noite do mundo.” — História do Protestantismo, de Wylie. As Sagradas Escrituras eram quase desconhecidas, não somente pelo povo mas pelos sacerdotes. Como os fariseus de outrora, os dirigentes papais odiavam a luz que revelaria os seus pecados. Removida a lei de Deus — a norma de justiça — exerciam eles poder sem limites e praticavam os vícios sem restrições. Prevaleciam a fraude, a avareza, a libertinagem. Os homens não recuavam de crime algum pelo qual pudessem adquirir riqueza ou posição. Os palácios dos papas e prelados eram cenários da mais vil devassidão. Alguns dos pontífices reinantes eram acusados de crimes tão revoltantes que os governadores seculares se esforçavam por depor esses dignitários da igreja como monstros demasiado vis para serem tolerados. Durante séculos a Europa não fez progresso no saber, nas artes ou na civilização. Uma paralisia moral e intelectual caíra sobre a cristandade.

   A condição do mundo sob o poder romano apresentava o cumprimento terrível e surpreendente das palavras do profeta Oséias: “O Meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento. Porque tu rejeitaste o conhecimento, também Eu te rejeitarei, ... visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também Eu Me esquecerei de teus filhos.” Oséias 4:6. “Não há verdade, nem benignidade, nem conhecimento de Deus na Terra. Só prevalecem o perjurar, e o mentir, e o matar, e o furtar, e o adulterar, e há homicídios sobre homicídios.” Oséias 4:1, 2. Foram estes os resultados do banimento da Palavra de Deus. (O Grande Conflito, p. 59-60, de Ellen Gould White)





TRIBUNAL ECLESIÁSTICO da INQUISIÇÃO





TETO do TRIBUNAL





INQUISITOR JESUÍTA


A Criação da Ordem dos Jesuítas e suas Práticas

   Em toda a cristandade o protestantismo estava ameaçado por temíveis adversários. Passados os primeiros triunfos da Reforma, Roma convocou novas forças, esperando ultimar sua destruição. Nesse tempo fora criada a ordem dos jesuítas - o mais cruel, sem escrúpulos e poderoso de todos os defensores do papado. Separados de laços terrestres e interesses humanos, insensíveis às exigências das afeições naturais, tendo inteiramente silenciadas a razão e a consciência, não conheciam regras nem restrições, além das da própria ordem, e nenhum dever, a não ser o de estender o seu poderio. O evangelho de Cristo havia habilitado seus adeptos a enfrentar o perigo e suportar sem desfalecer o sofrimento, pelo frio, fome, labutas e pobreza, a fim de desfraldar a bandeira da verdade, em face do instrumento de tortura, do calabouço e da fogueira. Para combater estas forças, o jesuitismo inspirou seus seguidores com um fanatismo que os habilitava a suportar semelhantes perigos, e opor ao poder da verdade todas as armas do engano. Não havia para eles crime grande demais para cometer, nenhum engano demasiado vil para praticar, disfarce algum por demais difícil para assumir. Votados à pobreza e humildade perpétuas, era seu estudado objetivo conseguir riqueza e poder para se dedicarem à subversão do protestantismo e restabelecimento da supremacia papal.

   Quando apareciam como membros de sua ordem, ostentavam santidade, visitando prisões e hospitais, cuidando dos doentes e pobres, professando haver renunciado ao mundo, e levando o nome sagrado de Jesus, que andou fazendo o bem. Mas sob esse irrepreensível exterior, ocultavam-se freqüentemente os mais criminosos e mortais propósitos. Era princípio fundamental da ordem que os fins justificam os meios. Por este código, a mentira, o roubo, o perjúrio, o assassínio, não somente eram perdoáveis, mas recomendáveis, quando serviam aos interesses da igreja. Sob vários disfarces, os jesuítas abriam caminho aos cargos do governo, subindo até conselheiros dos reis e moldando a política das nações. Tornavam-se servos para agirem como espias de seus senhores. Estabeleciam colégios para os filhos dos príncipes e nobres, e escolas para o povo comum; e os filhos de pais protestantes eram impelidos à observância dos ritos papais. Toda a pompa e ostentação exterior do culto romano eram levadas a efeito a fim de confundir a mente e deslumbrar e cativar a imaginação; e assim, a liberdade pela qual os pais tinham labutado e derramado seu sangue, era traída pelos filhos. Os jesuítas rapidamente se espalharam pela Europa e, aonde quer que iam, eram seguidos de uma revivificação do papado.

   Para lhes dar maior poder foi promulgada uma bula restabelecendo a inquisição. Apesar da aversão geral com que era considerado, mesmo nos países católicos, este horrível tribunal foi novamente estabelecido pelos chefes papais, e atrocidades demasiado terríveis para suportar a luz do dia, foram repetidas em suas masmorras secretas. Em muitos países, milhares e milhares da própria flor da nação, dos mais puros e nobres, dos mais intelectuais e altamente educados, piedosos e devotados pastores, cidadãos operosos e patrióticos, brilhantes sábios, artistas talentosos, hábeis artífices, foram mortos ou obrigados a fugir para outros países.

   Tais foram os meios que Roma invocara a fim de apagar a luz da Reforma, para retirar dos homens a Bíblia e restabelecer a ignorância e a superstição da Idade Média. [...] (O Grande Conflito, p. 234-235, de Ellen Gould White)


Quem são os Jesuítas?






***Se desejar obter esse material (Juramento dos Jesuítas) em vídeo e saber mais detalhes a respeito do mesmo, assista: O Apocalipse e os Últimos Acontecimentos

Álbum da Inquisição para download em arquivo MHTML.





VÁRIOS TIPOS de TORTURAS





VÁRIOS TIPOS de TORTURAS





PROCISSÃO dos FLAGELANTES
 (Vítimas da Inquisição)





PROCISSÃO dos FLAGELANTES
 (Vítimas da Inquisição)




Capa

REVISTA AVENTURAS NA HISTÓRIA – ABRIL DE 2008 – EDIÇÃO 57

Gostaria de ler ou fazer o download desta edição? Acesse aqui a Revista Aventuras na História - INQUISIÇÃO o reinado do medo em arquivo pdf (com excelente qualidade de imagem).

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     A fome, o frio e as condições precárias de higiene faziam com que até fortes fraquejassem, mas aqueles que permaneciam firmes na sua fé e em princípios que a igreja romana não aceitava, lhes era dado a oportunidade de passar pela tortura, muitas delas foram criadas ou copiadas de práticas militares. As torturas eram aplicadas perante um alto representante da igreja, o réu era levado perante seu carrasco o qual sem a mínima misericórdia ao ver que a vítima não renunciava a sua fé, e aceitava a fé da igreja romana, lhe aplicava o castigo.





TORTURA com OBJETO PONTIAGUDO





Galileu Galilei frente ao tribunal da inquisição Romana (pintura de Cristiano Banti).





Galileu Galilei frente ao tribunal da inquisição Romana.





   Os padres ameaçavam suas penitentes no confessionário que, a menos que tivessem relação sexual com eles, seriam entregues à Inquisição! Tão efetiva era essa ameaça que um sacerdote agonizante revelou em 1710 que "por essas persuasões diabólicas elas estavam ao nosso comando, sem medo de revelar o segredo." (Master-Key to Popery, p. 36, de Anthony Givin)

Se desejar faça o download da obra Master-Key to Popery .





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ALGEMAS





TRONCO- Com as pernas esticadas e os tornozelos presos, o réu ficava dias sofrendo terríveis cãibras. Esse instrumento existia nos mercados, feiras ou na entrada das cidades. Considerado de uso obrigatório na Idade Média em quase todas as regiões da Europa, esse e outros instrumentos, como as máscaras da infâmia, fazem parte de uma série para uso de punições corporais, os quais, além de constituírem uma punição para a vítima, eram também um exemplo para os outros. Eram utilizados para proteger a coletividade dos infratores.





TORTURA da BERLINDA - Era um castigo considerado leve, mas quase sempre a pena virava suplício e tortura quando a vítima (pescoço e braços imobilizados na trave) levava comumente tapas e/ou era insultada.





PÊNDULO ou TORTURA do PESO - O réu era amarrado com as mãos para atrás e içado a uns 4 metros do chão e violentamente solto lá de cima, segurando-o antes de atingir o chão. Em alguns casos, colocavam-se pesos nos tornozelos para aumentar a dor. O réu era amarrado com as mãos para atrás e içado a uns 4 metros do chão e violentamente solto lá de cima, segurando-o antes de atingir o chão. Este ato provocava terríveis dores musculares.





PÊNDULO ou TORTURA do PESO - Este ato provocava terríveis dores musculares.





PÊNDULO ou TORTURA do PESO





PÊNDULO ou TORTURA do PESO





TORTURA de MULTILAÇÃO com ALICATES e PINÇAS





ALICATES e PINÇAS de MULTILAÇÃO





MESA de ESTIRAMENTO, EVISCERAÇÃO OU ESQUARTEJAMENTO - O suplício do estiramento, ou alongamento longitudinal mediante tração. Desde a Idade Média até o final do século XVIII, esse e outros instrumentos para desmembramento constituíam apetrechos fundamentais em cada sala de tortura da Inquisição. A vítima era colocada deitada sobre um banco e tinha os pés fixados em dois anéis. Os braços eram puxados para trás e presos com uma corda acionada por uma alavanca. A partir desse momento, começava o estiramento, que imediatamente deslocava os ombros e as articulações do condenado, seguido pelo desmembramento da coluna vertebral e então pelo rompimento dos músculos, articulações, abdome e peito. Antes desses efeitos mortais, porém, o corpo do condenado se alongava até trinta centímetros. Enquanto o carrasco executava a tortura um padre convidava o réu para se retratar e aceitar a fé da igreja romana.





    Nela o condenado também era eviscerado vivo pelo carrasco. O carrasco abria-lhe o estômago com uma lâmina, prendia com pequenos ganchos as vísceras e, com a roda, lentamente ia puxando os ganchos. Os órgãos iam saindo do corpo da vítima durante horas, até que chegasse a morte. Alguns condenados permaneciam vivos durante dias depois de eviscerados, pois o carrasco tinha a habilidade de extrair das vítimas os órgãos não-vitais. Esse suplício esteve em uso em Portugal e na Espanha, de 1300 a 1800.





MESA de ESTIRAMENTO, EVISCERAÇÃO OU ESQUARTEJAMENTO





TORTURA do CHICOTE - O prisioneiro ficava com sua cabeça e mãos presas, enquanto seu carrasco aplicava-lhe no mínimo 50 chibatadas e no máximo 200.




CHICOTES





TORTURA da ÁGUA - Consistia em deitar a vítima numa maca, totalmente amarrado, seu carrasco lhe obrigava a abrir a sua boca, e colocando um funil até a garganta, iam enchendo de água provocando a sensação de afogamento, a quantidade de água variava de 1 até 4 litros. Esta pena era aplicada mais para as mulheres





TORTURA da ÁGUA





TORTURA da ÁGUA





TORTURA da ÁGUA






CADEIRA INQUISITÓRIA - Uma cadeira de madeira com seus assentos cobertos de espinhos. O réu sentava-se nu, e com o mínimo movimento, as costas, os braços, as pernas e os pés da vítima eram penetrados por esses espinhos provocando efeitos terríveis. Em outras versões, a cadeira apresentava assento de ferro, que podia se aquecido até ficar em brasa. Essa peça foi usada na Alemanha até o séc. XIX, na Itália e na Espanha até o final de 1700 e na França e outros países europeus, de acordo com pesquisas realizadas, até o final de 1800.





CADEIRA INQUISITÓRIA





DETALHES da CADEIRA - 1.606 pontas de madeira e 23 de ferro aproximadamente.





CADEIRA INQUISITÓRIA MENOR - A cadeira de tortura era usada na Europa Central, especialmente em Nuremberg e em Fegensburg, até 1846, durante os procedimentos judiciais. O inquirido apoiava todo o seu peso sobre o assento, que era colocado em posição inclinada para frente. Com o passar das horas, a posição incômoda tornava-se muito dolorosa, pelo efeito das agulhas nos braços e nas costas. Em outras variações, a cadeira, muitas vezes de ferro, podia ser aquecida - sobre cujas pontas incandescentes tinha de sentar o condenado.





DETALHES da CADEIRA INQUISITÓRIA MENOR





CAIXINHA para as MÃOS - A caixinha para as mãos que aparece na foto foi adquirida há pouco tempo, em um castelo da provença, Itália. Era usada como punição aos furtos leves praticados por domésticos. Também foi empregada como meio de punição pelos tribunais do século XVIII, para penalizar pequenos furtos. Prendendo geralmente a mão direita, esta era ferida com pregos. Além das dores do momento, o condenado ficava com a mão inutilizada.




CADEIRA das BRUXAS – Um acessório semelhante a uma cadeira gigante, com assento inclinado e dois orifícios para prender os tornozelos da vítima. O condenado era preso com os pés para cima e a cabeça para baixo. Tal posição causava dores atrozes nas costas, desorientava e aterrorizava os condenados. Além disso, possibilitava a fácil imposição de uma quantidade enorme de tormentos. A essa tortura eram submetidas principalmente as mulheres acusadas de bruxaria. Foi usada entre 1500 e 1800 em quase todos os países da Europa. Depois da confissão, as bruxas eram queimadas em autos-de-fé público, e suas cinzas, atiradas nos rios ou no mar.





DE CABEÇA para BAIXO





SERROTE - Usada principalmente para punir homossexuais, o serrote era uma das formas mais cruéis de execução. Dois executores, cada um e uma extremidade do serrote, literalmente, partiam ao meio o condenado, que preso pelos pés com as pernas entreabertas e de cabeça para baixo, não tinha a menor possibilidade de reação. Devido à posição invertida que garantia a oxigenação do cérebro e continha o sangramento, era comum que a vítima perdesse a consciência apenas quando a lâmina atingia a altura do umbigo.





DETALHES do SERROTE






SERROTE




GARROTE - Tem seu nome derivado do Espanhol, porque foi usado muito na Espanha como um instrumento de punição, usado até 1975 em um jovem que, depois de algum tempo, foi considerado inocente. O instrumento servia para estrangulamento dos condenados e era "o golpe de misericórdia" para os condenados à fogueira. Os católicos que pediam para morrer debaixo da fé da igreja romana, alcançavam o privilégio de serem sufocados primeiro. Os que declaravam querer morrer pelo judaísmo ou por outra religião eram conduzidos vivos à fogueira. A peça consistia em um colar de ferro preso a um pilar. Esse colar penetrava na coluna cervical da vítima e a morte era causada por asfixia e pelo rompimento da coluna.





VIOLA das COMADRES - Prendia-se as mãos e o pescoço enquanto se aplicava o suplício e ou a humilhação.








GAIOLA de SUSPENSÃO - Acessório em forma de gaiola, onde o condenado ficava apenas em uma posição, sem alimentos, pendurado por determinado tempo ou ao completo abandono até a morte dependendo de sua sentença.






CARVÃO em BRASA - Nesta gravura, vemos uma das formas de tortura mais comuns. Este pobre homem foi amarrado com uma corda apertada em torno do pescoço e da cintura, que estão presos em uma tábua no formato de uma porta. Os pés do homem foram colocados em um tronco, e diante das solas dos pés está uma bacia com carvão em brasa. O homem sentenciado será torturado com fogo nos pés enquanto seu pescoço será cada vez mais apertado pela correia que está presa à tábua.






FOGO nos PÉS – Uma prática muito comum durante interrogatórios inquisitórios. Imobilizava-se a vítima deixando os pés expostos e azeitados. Mantinha-se o fogo aceso até obter-se a confissão.





FOGO nos PÉS




FOGO nos PÉS








RODA VERTICAL ou de DESPEDAÇAMENTO - O réu era amarrado com as costas na parte externa da roda. Sob a roda, colocava-se brasas incandescentes. O carrasco, girando lentamente a roda, fazia com que o réu morresse praticamente "assado". Em outros casos, no lugar de brasas, colocava-se agulhões de madeira que o corpo, girando devagar e continuamente, era arranhado terrivelmente. Este suplício estava em voga na Inglaterra, Holanda e Alemanha, de 1100 a 1700 e destinava-se a punir os "hereges".






DETALHES da RODA de DESPEDAÇAMENTO





RODA VERTICAL





RODA VERTICAL





RODA HORIZONTAL




CAVALO ESPANHOL – Colocava-se a vítima sentada sobre essa peça com grandes pesos amarrados nas pernas e os braços suspensos para manter o equilíbrio.





QUEBRADOR de JOELHOS - Assemelhava-se, em ponto maior, ao esmagador de polegares: duas barras destinadas a comprimir entre si, até o ponto de fraturá-los, os joelhos da vítima. A parte interior do aparelho podia conter pontas. Geralmente, este aparelho era aplicado, após o que permitia-se à vítima uma noite ou algumas horas de descanso; no dia seguinte, estando as pernas do infeliz esmagadas e inflamadas, se não já quebradas mesmo, repetia-se a tortura, que se tornava, assim, muito mais dolorosa e quase impossível de resistir-se.





PÊRA - O nome é dado pelo formato da peça. É uma peça que expandia progressivamente as aberturas onde era introduzida. Esse instrumento forçava a boca, o ânus ou a vagina da vítima, geralmente mulheres. Era usada para punir os condenados por adultério, incesto ou união sexual com Satã, e também para blasfêmias ou “hereges”.





ESMAGA-POLEGARES - Esse instrumento era usado como alternativa às principais torturas, ou um tipo de amedrontamento, antes de começarem as próprias. O acusado sofria a mutilação do polegar simplesmente com o aperto do parafuso. Usado na Alemanha e na Itália do Norte entre 1300 e 1700, esse método muito doloroso servia para obter delações, informações ou confissões de delitos, muitas vezes não cometidos.





INANIÇÃO - O condenado é deixado de alguma forma ao abandono e sem alimentos.





ESMAGA-SEIOS - No século XV, as bruxas e a magia estavam em evidência. As crenças populares nesse campo eram tão enraizadas que foi muito ativo o comércio do "óleo santo", cinzas, hóstias consagradas, banha de cadáveres, sangue de morcego e similares. Então as bruxas e os bruxos passaram a ser considerados "hereges". Assim, o combate à heresia foi levado para o terreno da magia negra. Era comum, também, atribuir-se a uma pessoa bem-sucedida em negócios ou com o dom de sucesso repentino a acusação de magia. Era aplicado também em mulheres para puni-las por adultério, "união sexual com Satã", e também em decorrências de blasfêmias. E, dentre vários instrumentos de suplícios, geralmente preferia-se recorrer ao ferro em brasa, que o fogo sempre foi mais "eficaz" na luta contra os demônios. Os esmaga-seios, aquecido em brasa, fazia parte dos instrumentos empregados contra as bruxas. Na Franca e na Alemanha, esse instrumento tinha o nome de tarântula, ou aranha espanhola. Com ele se despedaçava o peito das meninas-mães ou das culpadas de aborto voluntário.





ESMAGA-SEIOS





CINTURÃO de CASTIDADE




CINTURÃO de CASTIDADE





CINTURÃO de CASTIDADE





CINTURÃO de CASTIDADE






CINTURÃO de SANTO ERASMO





POTRO - Este aparelho, muito engenhoso, era composto por uma prancha, sobre a qual era deitada a vítima. Esta prancha apresentava orifícios pelo quais se passavam cordas de cânhamo que arrochavam os antebraços, os braços as coxas, as panturrilhas, em suma, as partes mais carnudas dos membros da vítima. No decorrer da tortura, essas cordas eram progressivamente apertadas, por meio de manivelas nas laterais do aparelho. O efeito era o de um torniquete. A legislação espanhola que regulamentava a tortura previa, no máximo, cinco voltas nas manivelas que apertavam as cordelas ao corpo. Isso visava a garantir que, caso fosse provada a inocência do réu, este não saísse da tortura com seqüelas irreversíveis. Porém, geralmente, os carrascos, incitados pelos interrogadores, davam até dez voltas na torção, o que fazia com que as cordas esmagassem a carne até o osso.





ESMAGA-CABEÇA - Esse instrumento esteve em uso, ao que parece, na Alemanha do Norte, e gozava de certa preferência. O seu funcionamento é tão simples quanto cruel. Colocava-se a cabeça do condenado com o queixo sobre a barra inferior, e com o rosqueamento a cabeça ia sendo esmagada. Primeiro, despedaçava os alvéolos dentais, as mandíbulas, e então a massa cerebral saía pela caixa craniana. Mas com o passar do tempo esse instrumento perdeu a sua função de matar e assumiu o papel de tortura do inquisidor. Ainda permanece em uso em países onde a polícia emprega tortura para obter confissões, com a diferença de que são usados materiais macios, para não deixar marcas.





ESPADA, MACHADO e CEPO - As decapitações eram a forma mais comum de execução medieval. A decapitação pela espada, por exigir uma técnica apurada do executor e ser mais suave que outros métodos, era geralmente reservada aos nobres. O executor, que apurava sua técnica em animais e espantalhos, ceifava a cabeça da vítima num único golpe horizontal atingindo o pescoço do condenado. O machado era usado apenas em conjunto com o cepo. A vítima era posta ajoelhada com a coluna curvada para frente e a cabeça apoiada no cepo. O executor, num único golpe de machado, atingia o pescoço da vítima decepando-a.





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA - Este é um dos métodos de execução mais conhecidos e utilizados durante a inquisição. Os condenados por bruxaria ou "afronta" à igreja romana eram amarrados em um tronco e queimados vivos. Para garantir que morresse queimada e não asfixiada pela fumaça, a vítima era vestida com uma camisola embebida em enxofre.





Joana D'Arc sendo interrogada pelo Cardeal de Winchester na prisão (1824). Pintura de Paul Delaroche (1797-1856). Museu de Belas Artes de Rouen (França).





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA - Joana D'Arc - Vítima da Inquisição.





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA - Templários - Vítimas da Inquisição.





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA - Templários





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA





CREMAÇÃO ou FOGUEIRA





VIRGEM DE NUREMBERG ou DAMA de FERRO - A idéia de se mecanizar a tortura nasceu na Alemanha, e ali originou-se a virgem de Nuremberg. Foi chamada assim porque o seu protótipo foi construído no subterrâneo do tribunal daquela cidade. Um sarcófago de madeira com espinhos ou lâminas afiados, longos e removíveis, que eram colocados de tal forma, que não atingia nenhum ponto vital das vítimas para prolongar seu sofrimento. Era composto por duas portas, uma abria para frente e outra para trás. Assim, quando a porta era aberta, atingiria certos órgãos que não haviam sido afetados anteriormente. O condenado era ferido gravemente e morria lentamente em decorrência da hemorragia.





DESPERTADOR, CANDELABRO ou BERÇO de JUDAS - foi idealizado pelo italiano Ippolito Marsili, e deveria marcar uma mudança decisiva na história da tortura. Seria um sistema capaz de obter confissões sem infligir crueldade ao corpo humano. Não se quebrava nenhuma vértebra, calcanhar ou junta da vítima. Consistia o aparelho em deixar o condenado acordado o maior espaço de tempo possível. Era, na verdade, o suplício do sono. O tormento do despertador, definido no início como tortura não cruel, diante da Inquisição teve muitas variações até chegar ao procedimento absurdo de se amarrar com cordas firmes a vítima, suspendê-las e deixá-la cair com todo o peso do corpo contra o ânus e as partes sexuais mais sensíveis sobre a ponta da pirâmide, esmagando os testículos, o cóccix e, no caso de uma condenada, a vagina, causando dores atrozes. Muitas vezes a vítima desmaiava de dor. Então era reanimada para se repetir a operação. O despertador passou então a ser chamado "o Berço de Judas".





CEGONHA – Essa peça era usada para imobilização. O pescoço era colocado no arco superior, as mãos nos arcos menores e os tornozelos na parte inferior, deixando a vítima numa posição fetal com as mãos e os joelhos erguidos até o queixo tornando qualquer movimento praticamente impossível.





GARFO ou FORQUILHA do HEREGE - Um garfo de metal com duas pontas era preso a um colar de couro e colocado no pescoço da vítima. Suas pontas eram afiadas e penetravam na pele sem atingir nenhum órgão vital. A principal função dessa peça era matar a pessoa por asfixia, mas antes da pessoa morrer, ela permanecia por algumas horas nesse sofrimento.





GUILHOTINA- Muito usada na França no período da inquisição e na Alemanha, a guilhotina (nome dado por causa de seu inventor, Ignace Guillotine) era uma máquina de punição pública. Era usada principalmente para punir bandidos e bruxarias, mostrando assim para a população o que acontecia com as pessoas que não cumprissem o que lhes fora imposto. A lâmina, presa por uma corda e apoiada entre dois troncos verticais, descia violentamente decapitando o condenado.





MÁSCARAS da INFÂMIA - No período de 1500 a 1600, essas máscaras de ferro se apresentavam de formas variadíssimas e muito fantasiosas. Eram utilizadas para punir de forma humilhante as pessoas que não aprovavam o governo, às mulheres "rebeldes" e os chamados "hereges", que inssistiam em obedecer a Bíblia como única regra de fé. Os condenados ficavam expostos em lugares públicos, bem visíveis. Além da tortura mental, as máscaras normalmente apertavam o nariz ou os olhos das vítimas para prolongar o sofrimento.





MÁSCARAS da INFÂMIA





MÁSCARAS da INFÂMIA






GARRA de GATO – Peça feita em ferro em formato de uma garra de um felino. Era usada para rasgar as costas dos condenados enquanto esses ficavam pendurados pelos braços. Pelo tamanho das garras, ossos e músculos não eram obstáculos para a arma.





GARRA de GATO





EMPALAMENTO – Um dos mais repugnantes castigos jamais idealizados pelo ser humano, era uma forma particularmente cruel de execução, visto que a vítima agonizava por vários dias antes de morrer, demorando muito a ficar inconsciente. Para isto deitava-se a vítima de bruços e enfiava-se em seu ânus, no umbigo, ou na vagina da mulher condenada a tal martírio, uma estaca suficientemente longa para lhe transfixar corpo no sentido do comprimento. Para a introdução da peça de madeira no corpo do condenado, dava-se golpes de marreta, e em seguida a estaca era plantada no chão; a partir daí a força da gravidade se encarregava do resto, pois o corpo simplesmente era empurrado por ela em direção ao solo, enquanto a estaca lentamente rasgava as entranhas do infeliz, num processo que podia durar várias horas ou até dias, dependendo da espessura da estaca e da capacidade de resistência do supliciado.





EMPALADOR ao CONTRÁRIO - Ainda mais terrível era o "empalamento ao contrário". Segundo este método, a vítima era suspensa pelos pés, o que impedia a hemorragia e facilitava a oxigenação do cérebro; assim sendo, o condenado demorava a perder os sentidos, permanecendo consciente durante a maior parte da operação. Este tipo de tortura foi muito  utilizado por diversas civilizações antigas, sobretudo árabes e européias. Os assírios, conhecidos por inventarem métodos de tortura dos mais cruéis, séculos antes de Cristo empalavam os inimigos derrotados em guerras, e também civis que cometiam certos crimes.





ÓLEO FERVENTE – Prática usada para punir “hereges”. Colocava-se a vítima imobilizada dentro de um tacho de azeite ou óleo fervente causando uma morte relativamente lenta.





COLISEU ROMANO





COLISEU ROMANO




COLISEU ROMANO





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CALABOUÇO - Meses e anos eram passados nos obscuros calabouços, incomunicáveis do resto do mundo, a espera do martírio.





CALABOUÇO




O AUTO-da-FÉ ou AUTO-de-FÉ - Assim era chamada a cerimônia de execução do réu que, não querendo renunciar a sua fé, e sendo esta contrária às doutrinas da igreja romana, esta crendo ter a autoridade de Deus para decidir entre a vida e a morte, se dava o direito de executar tal pessoa, não sem antes humilhá-la em público. No réu era colocado um traje branco com uma cruz vermelha virada para abaixo, e na sua cabeça um enorme chapéu com desenhos de demônios. Era feita uma procissão pela cidade até chegar na praça onde todo o povo era obrigado a assistir, sob pena de ser excomungado e, ali na frente da multidão sedenta de sangue, era armada a pira onde o réu recebia a sentença final, morrer no fogo. Executado o réu, suas cinzas eram esparzidas ou se morto no garrote espanhol, seu corpo era jogado numa vala comum.





DETALHES do TRAJE dos "hereges" condenados a morte (fogueira).






PRAÇA CENTRAL da CIDADE de LIMA - Na cidade de Lima os autos de fé aconteceram 42 vezes, no lugar onde hoje está a praça central da cidade, em frente a catedral. Todo o clero e o povo se reuniam para ver a execução dos "hereges" (cristãos sinceros).





DETALHES da cena de execução, onde o carrasco aguarda sua vítima.





AUTO-da-FÉ





AUTO-da-FÉ





AUTO-da-FÉ





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[...] Nos dias da supremacia de Roma, houve instrumentos de tortura para forçar a aceitação de suas doutrinas. Houve a fogueira para os que não queriam admitir suas exigências. Houve massacres em proporções que jamais serão conhecidos até que se revelem no Dia do Juízo. Os dignitários da igreja, dirigidos por seu chefe Satanás, dedicavam-se a inventar meios para produzir a maior tortura possível antes de pôr termo à vida das vítimas. Em muitos casos o processo infernal era repetido ao limite extremo da resistência humana, até que a natureza capitulava na luta e o sofredor saudava a morte como doce alívio. (O Grande Conflito, p. 569, de Ellen Gould White)





O MASSACRE de SÃO BARTOLOMEU - O mais negro, porém, do negro catálogo de crimes, a mais horrível entre as ações diabólicas de todos os hediondos séculos, foi o massacre de São Bartolomeu. O mundo ainda recorda com estremecimento de horror as cenas daquele assalto covardíssimo e cruel. O rei da França, com quem sacerdotes e prelados romanos insistiram, sancionou a hedionda obra. Um sino badalando à noite dobres fúnebres, foi o sinal para o morticínio. Milhares de protestantes que dormiam tranqüilamente em suas casas, confiando na honra empenhada de seu rei, eram arrastados para fora sem aviso prévio e assassinados a sangue frio.

   Como Cristo fora o chefe invisível de Seu povo ao ser tirado do cativeiro egípcio, assim foi Satanás o chefe invisível de seus súditos na horrível obra de multiplicar os mártires. Durante sete dias perdurou o massacre em Paris, sendo os primeiros três com inconcebível fúria. E não se limitou unicamente à cidade, mas por ordem especial do rei estendeu-se a todas as províncias e cidades onde se encontravam protestantes. Não se respeitava nem idade nem sexo. Não se poupava nem a inocente criancinha, nem o homem de cabelos brancos. Nobres e camponeses, velhos e jovens, mães e filhos, eram juntamente abatidos. Por toda a França a carnificina durou dois meses. Pereceram setenta mil da legítima flor da nação.

   “Quando as notícias do massacre chegaram a Roma, a exultação entre o clero não teve limites. O cardeal de Lorena recompensou o mensageiro com mil coroas; o canhão de Santo Ângelo reboou em alegre salva; os sinos tangeram em todos os campanários; fogueiras festivas tornaram a noite em dia; e Gregório XIII, acompanhado dos cardeais e outros dignitários eclesiásticos, foi, em longa procissão, à igreja de São Luís, onde o cardeal de Lorena cantou o Te Deum. ... Uma medalha foi cunhada para comemorar o massacre, e no Vaticano ainda se podem ver três quadros de Vasari descrevendo o ataque ao almirante, o rei em conselho urdindo a matança, e o próprio morticínio. Gregório enviou a Carlos a Rosa de Ouro; e quatro meses depois da carnificina, ... ouviu complacentemente ao sermão de um padre francês, ... que falou daquele ‘dia tão cheio de felicidade e regozijo, em que o santíssimo padre recebeu a notícia, e foi em aparato solene dar graças a Deus e a São Luís’.” — O Massacre de São Bartolomeu, de Henry White. (O Grande Conflito, p. 272, de Ellen Gould White)





O GRANDE TERREMOTO de LISBOA - Gravura britânica, publicada em Londres em 1756. O rei português, D. José I, frente a uma Lisboa em ruínas, pergunta a um padre anglicano quais as causas do terremoto; o sacerdote protestante mostra-lhe um “auto-da-fé”, dizendo que “queimar pessoas provoca a ira divina” (Jan Kozak Collection, Universidade de Berkeley, Califórnia). (Fonte: Rua da Judiaria - O Terramoto de Lisboa, os judeus e a Inquisição)

[...] Disse Jesus: “Haverá sinais no Sol, na Lua, e nas estrelas.” Lucas 21:25. “O Sol escurecerá, e a Lua não dará a sua luz. E as estrelas cairão do céu, e as forças que estão no céu serão abaladas. E então verão vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e glória.” Marcos 13:24-26. O profeta do Apocalipse assim descreve o primeiro dos sinais que precedem o segundo advento: “Houve um grande tremor de terra; e o Sol tornou-se negro como saco de cilício, e a Lua tornou-se como sangue.” Apocalipse 6:12.

   Estes sinais foram testemunhados antes do início do século XIX. Em cumprimento desta profecia ocorreu no ano 1755 o mais terrível terremoto que já se registrou. Posto que geralmente conhecido por terremoto de Lisboa, estendeu-se pela maior parte da Europa, África e América do Norte. Foi sentido na Groenlândia, nas Índias Ocidentais, na Ilha da Madeira, na Noruega e Suécia, Grã-Bretanha e Irlanda. Abrangeu uma extensão de mais de dez milhões de quilômetros quadrados. Na África, o choque foi quase tão violento como na Europa. Grande parte da Argélia foi destruída; e, a pequena distância de Marrocos, foi tragada uma aldeia de oito ou dez mil habitantes. Uma vasta onda varreu a costa da Espanha e da África, submergindo cidades, e causando grande destruição.

   Foi na Espanha e Portugal que o choque atingiu a maior violência. Diz-se que em Cádiz a ressaca alcançou a altura de vinte metros. Montanhas, “algumas das maiores de Portugal, foram impetuosamente sacudidas, como que até aos fundamentos; e algumas delas se abriram nos cumes, os quais se partiram e rasgaram de modo maravilhoso, sendo delas arrojadas imensas massas para os vales adjacentes. Diz-se terem saído chamas dessas montanhas.” — Princípios de Geologia, Sir Charles Lyell.

   Em Lisboa, “um som como de trovão foi ouvido sob o solo e imediatamente depois violento choque derribou a maior parte da cidade. No lapso de mais ou menos seis minutos, pereceram sessenta mil pessoas. O mar a princípio se retirou, deixando seca a barra; voltou então, levantando-se doze metros ou mais acima de seu nível comum.” “Entre outros acontecimentos extraordinários que se refere terem ocorrido em Lisboa durante a catástrofe, esteve o soçobro do novo cais, construído inteiramente de mármore, com vultosa despesa. Grande número de pessoas ali se ajuntara em busca de segurança, sendo um local em que poderiam estar fora do alcance das ruínas que tombavam; subitamente, porém, o cais afundou com todo o povo sobre ele, e nenhum dos cadáveres jamais flutuou na superfície.” — Lyell.

   “O choque” do terremoto “foi instantaneamente seguido da queda de todas as igrejas e conventos, de quase todos os grandes edifícios públicos, e de mais da quarta parte das casas. Duas horas depois, aproximadamente, irromperam incêndios em diferentes quarteirões, e com tal violência se alastraram pelo espaço de quase três dias, que a cidade ficou completamente desolada. O terremoto ocorreu num dia santo, em que as igrejas e conventos estavam repletos de gente, muito pouca da qual escapou.” — Enciclopédia Americana, art. Lisboa. “O terror do povo foi indescritível. Ninguém chorava; estava além das lágrimas. Corriam para aqui e para acolá, em delírio, com horror e espanto, batendo no rosto e no peito, exclamando: ‘Misericórdia! é o fim do mundo!’ Mães esqueciam-se de seus filhos e corriam para qualquer parte, carregando crucifixos. Infelizmente, muitos corriam para as igrejas em busca de proteção; mas em vão foi exposto o sacramento; em vão as pobres criaturas abraçaram os altares; imagens, padres e povo foram sepultados na ruína comum.” Calculou-se que noventa mil pessoas perderam a vida naquele dia fatal. (O Grande Conflito, p. 304-305, de Ellen Gould White)





Esquerda: o panfleto da sinagoga portuguesa e espanhola de Hamburgo anunciando um dia de jejum e oração em memória as vítimas do terramoto de Lisboa. Direita: xilogravura checa sobre o terramoto de Lisboa datada de finais de 1755 (Original do Museu da Biblioteca Nacional da República Checa).

Rezando pela memória das vítimas do terramoto de Lisboa, e pedindo a protecção divina, alguns dos líderes religiosos dos judeus portugueses emigrados em Hamburgo – e também em Amsterdão – viam na catástrofe um “castigo divino” que punia Portugal pelos crimes da Inquisição, em retribuição pelas suas inúmeras vítimas1 (António José da Silva, dramaturgo conhecido como O Judeu, por exemplo, fora executado na fogueira 18 anos antes do terremoto). A mesma leitura seria feita na época um pouco por toda a Europa, onde teólogos protestantes imputavam o Grande Terramoto de Lisboa a uma omnipresente “mão de Deus” que castigava os portugueses pela sede sanguinária e fanática da Inquisição (ver gravura em baixo). Cerca de dois séculos antes, como testemunhou um atónito Gil Vicente, um grupo de frades de Santarém pregava que o terramoto de 26 de Janeiro de 1531 fora “um castigo divino” pela presença dos judeus em Portugal (que por sinal estavam no país há mais de 2500 anos…).

Mas no século XVIII, mesmo aqueles menos dados às coisas da religião não hesitavam em juntar terramoto e Inquisição nas mesmas páginas. Numa carta dirigida a M. Tronchin de Lyons, datada de 24 de Novembro de 1755, redigida pouco tempo depois de receber a notícia da catástrofe de Lisboa, o filósofo iluminista francês Voltaire escrevia: “(…) Que dirão os pregadores – especialmente se o Palácio da Inquisição ainda ficar de pé! Agrada-me a ideia de que esses reverendos padres, os da Inquisição, terão sido esmagados tal como as outras pessoas. Servirá isso para ensinar que homens não devem perseguir outros homens: porque, enquanto beatos hipócritas queimam uns quantos na fogueira, a terra abre-se e engole a todos sem distinção.”

Quatro anos mais tarde, Voltaire tornava a escrever sobre o terramoto de Lisboa, e sobre a Inquisição, no romance burlesco Candide. No capítulo VI de Candide, o filósofo francês coloca os padres da Universidade de Coimbra a proclamarem que “o espectáculo de queimar vivas umas quantas pessoas em fogo lento, e numa grande cerimónia, é um segredo infalível para prevenir que a terra trema”, pelo que se organiza um “grandioso auto-de-fé” no qual serão queimados, entre outros, “dois portugueses que se recusam comer toucinho”. “No mesmo dia”, escreve Voltaire no final do capítulo, “a terra tremeria de novo com um furor implacável.”

1Até aos finais do século XIX, as congregações de judeus portugueses na Diáspora (em Nova Iorque, Filadélfia, Savannah, Newport, Amsterdão, Caraíbas etc.) tinham nos seus livros de oração uma benção, pronunciada diariamente pelos congregantes, onde se lia em português: “Tende na vossa guarda a todos os nossos Irmãos prezos pella Inquisição e a todos os nossos irmãos que andão por caminhos tanto por mar como por terra.” (Fonte: Rua da Judiaria - O Terramoto de Lisboa, os judeus e a Inquisição)





Monumento comemorativo do Sínodo da Igreja Valdense no Vale de Angrogna em Chanforan na Itália, ano 1532.


Um Povo que Difunde Luz

   Por entre as trevas que baixaram à Terra durante o longo período da supremacia papal, a luz da verdade não poderia ficar inteiramente extinta. Em cada época houve testemunhas de Deus — homens que acalentavam fé em Cristo como único mediador entre Deus e o homem, que mantinham a Escritura Sagrada como a única regra de vida, e santificavam o verdadeiro sábado. Quanto o mundo deve a estes homens, a posteridade jamais saberá. Foram estigmatizados como hereges, impugnados os seus motivos, criticado o seu caráter, e suprimidos, difamados ou mutilados os seus escritos. No entanto, permaneceram firmes, e de século em século mantiveram a fé em sua pureza como sagrado legado às gerações vindouras.

   A história do povo de Deus durante os séculos de trevas que se seguiram à supremacia de Roma, está escrita no Céu, mas pouco espaço ocupa nos registros humanos. Poucos traços de sua existência se podem encontrar, a não ser nas acusações de seus perseguidores. Foi tática de Roma obliterar todo vestígio de dissidência de suas doutrinas ou decretos. Tudo que fosse herético, quer pessoas quer escritos, procurava ela destruir. Expressões de dúvida ou questões quanto à autoridade dos dogmas papais eram suficientes para tirar a vida do rico ou pobre, elevado ou humilde. Roma se esforçava também por destruir todo registro de sua crueldade para com os que discordavam dela. Os concílios papais decretavam que livros ou escritos contendo relatos desta natureza deviam ser lançados às chamas. Antes da invenção da imprensa, os livros eram pouco numerosos, e de forma desfavorável à preservação; portanto, pouco havia a impedir que os romanistas levassem a efeito o seu desígnio.

   Nenhuma igreja dentro dos limites da jurisdição romana ficou muito tempo sem ser perturbada no gozo da liberdade de consciência. Mal o papado obtivera poder, estendeu os braços para esmagar a todos os que se recusassem a reconhecer-lhe o domínio; e, uma após outra, submeteram-se as igrejas ao seu governo.

   Na Grã-Bretanha o primitivo cristianismo muito cedo deitou raízes. O evangelho, recebido pelos bretões nos primeiros séculos, não se achava então corrompido pela apostasia romana. A perseguição dos imperadores pagãos, que se estendeu mesmo até àquelas praias distantes, foi a única dádiva que a primeira igreja da Bretanha recebeu de Roma. Muitos dos cristãos, fugindo da perseguição na Inglaterra, encontraram refúgio na Escócia; daí a verdade foi levada à Irlanda, sendo em todos estes países recebida com alegria.

   Quando os saxões invadiram a Bretanha, o paganismo conseguiu predomínio. Os conquistadores desdenharam ser instruídos por seus escravos, e os cristãos foram obrigados a retirar-se para as montanhas e os pântanos. Não obstante, a luz por algum tempo oculta continuou a arder. Na Escócia, um século mais tarde, brilhou ela com um fulgor que se estendeu a mui longínquas terras. Da Irlanda vieram o piedoso Columba e seus colaboradores, os quais, reunindo em torno de si os crentes dispersos da solitária ilha de Iona, fizeram desta o centro de seus trabalhos missionários. Entre estes evangelistas encontrava-se um observador do sábado bíblico, e assim esta verdade foi introduzida entre o povo. Estabeleceu-se uma escola em Iona, da qual saíram missionários, não somente para a Escócia e Inglaterra, mas para a Alemanha, Suíça e mesmo para a Itália.

   Roma, porém, fixara os olhos na Bretanha e resolvera pô-la sob sua supremacia. No século VI seus missionários empreenderam a conversão dos pagãos saxões. Foram recebidos com favor pelos orgulhosos bárbaros, e induziram muitos milhares a professar a fé romana. O trabalho progredia e os dirigentes papais e seus conversos encontraram os cristãos primitivos. Eloqüente contraste se apresentou. Os últimos eram simples, humildes e de caráter, doutrina e maneiras segundo as Escrituras, ao passo que os primeiros manifestavam a superstição, a pompa e a arrogância do papado. O emissário de Roma exigiu que estas igrejas cristãs reconhecessem a supremacia do soberano pontífice. Os bretões mansamente replicaram que desejavam amar a todos os homens, mas que o papa não tinha direito à supremacia na igreja, e que eles poderiam prestar-lhe somente a submissão devida a todo seguidor de Cristo. Repetidas tentativas foram feitas para se conseguir sua adesão a Roma; mas esses humildes cristãos, espantados com o orgulho ostentado por seus emissários, firmemente replicavam que não conheciam outro mestre senão a Cristo. Revelou-se, então, o verdadeiro espírito do papado. Disse o chefe romano: “Se não receberdes irmãos que vos trazem paz, recebereis inimigos que vos trarão guerra. Se vos não unirdes conosco para mostrar aos saxões o caminho da vida, recebereis deles o golpe de morte.” — História da Reforma do Século XVI, D’Aubigné. Não era isto simples ameaça. Guerra, intriga e engano foram empregados contra as testemunhas de uma fé bíblica, até que as igrejas da Bretanha foram destruídas ou obrigadas a submeter-se à autoridade do papa.

   Em terras que ficavam além da jurisdição de Roma, existiram por muitos séculos corporações de cristãos que permaneceram quase inteiramente livres da corrupção papal. Estavam rodeados de pagãos e, no transcorrer dos séculos, foram afetados por seus erros; mas continuaram a considerar a Escritura Sagrada como a única regra de fé, aceitando muitas de suas verdades. Estes cristãos acreditavam na perpetuidade da lei de Deus e observavam o sábado do quarto mandamento. Igrejas que se mantinham nesta fé e prática, existiram na África Central e entre os armênios, na Ásia.

   Mas dentre os que resistiram ao cerco cada vez mais apertado do poder papal, os valdenses ocuparam posição preeminente. A falsidade e corrupção papal encontraram a mais decidida resistência na própria terra em que o papa fixara a sede. Durante séculos as igrejas do Piemonte mantiveram-se independentes; mas afinal chegou o tempo em que Roma insistiu em submetê-las. Depois de lutas inúteis contra a tirania, os dirigentes destas igrejas reconheceram relutantemente a supremacia do poder a que o mundo todo parecia render homenagem. Alguns houve, entretanto, que se recusaram a ceder à autoridade do papa ou do prelado. Estavam decididos a manter sua fidelidade a Deus, e preservar a pureza e simplicidade de fé. Houve separação. Os que se apegaram à antiga fé, retiraram-se; alguns, abandonando os Alpes nativos, alçaram a bandeira da verdade em terras estrangeiras; outros se retraíram para os vales afastados e fortalezas das montanhas, e ali preservaram a liberdade de culto a Deus.

   A fé que durante muitos séculos fora mantida e ensinada pelos cristãos valdenses, estava em assinalado contraste com as falsas doutrinas que Roma apresentava. Sua crença religiosa baseava-se na Palavra escrita de Deus — o verdadeiro documento religioso do cristianismo. Mas aqueles humildes camponeses, em seu obscuro retiro, excluídos do mundo e presos à labuta diária entre seus rebanhos e vinhedos, não haviam por si sós chegado à verdade em oposição aos dogmas e heresias da igreja apóstata. A fé que professavam não era nova. Sua crença religiosa era a herança de seus pais. Lutavam pela fé da igreja apostólica — a “fé que uma vez foi dada aos santos.” Judas 3. “A igreja no deserto” e não a orgulhosa hierarquia entronizada na grande capital do mundo, era a verdadeira igreja de Cristo, a depositária dos tesouros da verdade que Deus confiara a Seu povo para ser dada ao mundo.

   Entre as principais causas que levaram a igreja verdadeira a separar-se da de Roma, estava o ódio desta ao sábado bíblico. Conforme fora predito pela profecia, o poder papal lançou a verdade por terra. A lei de Deus foi lançada ao pó, enquanto se exaltavam as tradições e costumes dos homens. As igrejas que estavam sob o governo do papado, foram logo compelidas a honrar o domingo como dia santo. No meio do erro e superstição que prevaleciam, muitos, mesmo dentre o verdadeiro povo de Deus, ficaram tão desorientados que ao mesmo tempo em que observavam o sábado, abstinham-se do trabalho também no domingo. Isto, porém, não satisfazia aos chefes papais. Exigiam não somente que fosse santificado o domingo, mas que o sábado fosse profanado; e com a mais violenta linguagem denunciavam os que ousavam honrá-lo. Era unicamente fugindo ao poder de Roma que alguém poderia em paz obedecer à lei de Deus.

   Os valdenses foram os primeiros dentre os povos da Europa a obter a tradução das Sagradas Escrituras. Centenas de anos antes da Reforma, possuíam a Bíblia em manuscrito, na língua materna. Tinham a verdade incontaminada, e isto os tornava objeto especial do ódio e perseguição. Declaravam ser a Igreja de Roma a Babilônia apóstata do Apocalipse, e com perigo de vida erguiam-se para resistir a suas corrupções. Opressos pela prolongada perseguição, alguns comprometeram sua fé, cedendo pouco a pouco em seus princípios distintivos, enquanto outros sustentavam firme a verdade. Durante séculos de trevas e apostasia, houve alguns dentre os valdenses que negavam a supremacia de Roma, rejeitavam o culto às imagens como idolatria e guardavam o verdadeiro sábado. Sob as mais atrozes tempestades da oposição conservaram a fé. Perseguidos embora pela espada dos saboianos (França) e queimados pela fogueira romana, mantiveram-se sem hesitação ao lado da Palavra de Deus e de Sua honra.

   Por trás dos elevados baluartes das montanhas — em todos os tempos refúgio dos perseguidos e oprimidos — os valdenses encontraram esconderijo. Ali, conservou-se a luz da verdade a arder por entre as trevas da Idade Média. Ali, durante mil anos, testemunhas da verdade mantiveram a antiga fé.

   Deus providenciara para Seu povo um santuário de majestosa grandeza, de acordo com as extraordinárias verdades confiadas à sua guarda. Para os fiéis exilados, eram as montanhas um emblema da imutável justiça de Jeová. Apontavam eles a seus filhos as alturas sobranceiras, em sua imutável majestade, e falavam-lhes dAquele em quem não há mudança nem sombra de variação, cuja Palavra é tão perdurável como os montes eternos. Deus estabelecera firmemente as montanhas e as cingira de fortaleza; braço algum, a não ser o do Poder infinito, poderia movê-las do lugar. De igual maneira estabelecera Ele a Sua lei — fundamento de Seu governo no Céu e na Terra. O braço do homem poderia atingir a seus semelhantes e destruir-lhes a vida; mas esse braço seria tão impotente para desarraigar as montanhas de seu fundamento e precipitá-las no mar, como para mudar um preceito da lei de Jeová ou anular qualquer de Suas promessas aos que Lhe fazem a vontade. Na fidelidade para com a Sua lei, os servos de Deus deviam ser tão firmes como os outeiros imutáveis.

   As montanhas que cingiam os fundos vales eram testemunhas constantes do poder criador de Deus e afirmação sempre infalível de Seu cuidado protetor. Esses peregrinos aprenderam a amar os símbolos silenciosos da presença de Jeová. Não condescendiam com murmurações por causa das agruras da sorte; nunca se sentiam abandonados na solidão das montanhas. Agradeciam a Deus por haver-lhes provido refúgio da ira e crueldade dos homens. Regozijavam-se diante dEle na liberdade de prestar culto. Muitas vezes, quando perseguidos pelos inimigos, a fortaleza das montanhas se provara ser defesa segura. De muitos rochedos elevados entoavam eles louvores a Deus e os exércitos de Roma não podiam fazer silenciar seus cânticos de ações de graças.

   Pura, singela e fervorosa era a piedade desses seguidores de Cristo. Os princípios da verdade, avaliavam-nos eles acima de casas e terras, amigos, parentes e mesmo da própria vida. Semelhantes princípios ardorosamente procuravam eles gravar no coração dos jovens. Desde a mais tenra infância os jovens eram instruídos nas Escrituras, e ensinava-se-lhes a considerar santos os requisitos da lei de Deus. Sendo raros os exemplares das Escrituras Sagradas, eram suas preciosas palavras confiadas à memória. Muitos eram capazes de repetir longas porções tanto do Antigo como do Novo Testamento. Os pensamentos de Deus associavam-se ao sublime cenário da Natureza e às humildes bênçãos da vida diária. Criancinhas aprendiam a olhar com gratidão a Deus como o Doador de toda mercê e conforto.

   Os pais, ternos e afetuosos como eram, tão sabiamente amavam os filhos que não permitiam que se habituassem à condescendência própria. Esboçava-se diante deles uma vida de provações e agruras, talvez a morte de mártir. Eram ensinados desde a infância a suportar rudezas, a sujeitar-se ao domínio, e contudo a pensar e agir por si mesmos. Muito cedo eram ensinados a encarar responsabilidades, a serem precavidos no falar e a compreenderem a sabedoria do silêncio. Uma palavra indiscreta que deixassem cair no ouvido dos inimigos, poderia pôr em perigo não somente a vida do que falava, mas a de centenas de seus irmãos; pois, semelhantes a lobos à caça da presa, os inimigos da verdade perseguiam os que ousavam reclamar liberdade para a fé religiosa.

   Os valdenses haviam sacrificado a prosperidade temporal por amor à verdade, e com paciência perseverante labutavam para ganhar o pão. Cada recanto de terra cultivável entre as montanhas era cuidadosamente aproveitado; fazia-se com que os vales e as encostas menos férteis das colinas também produzissem. A economia e a severa renúncia de si próprio formavam parte da educação que os filhos recebiam como seu único legado. Ensinava-se-lhes que Deus determinara fosse a vida uma disciplina e que suas necessidades poderiam ser supridas apenas mediante o trabalho pessoal, previdência, cuidado e fé. O processo era laborioso e fatigante, mas salutar, precisamente o de que o homem necessita em seu estado decaído — escola que Deus proveu para o seu ensino e desenvolvimento. Enquanto os jovens se habituavam ao trabalho e asperezas, a cultura do intelecto não era negligenciada. Ensinava-se-lhes que todas as suas capacidades pertenciam a Deus, e que deveriam todas ser aperfeiçoadas e desenvolvidas para o Seu serviço.

   As igrejas valdenses, em sua pureza e simplicidade, assemelhavam-se à igreja dos tempos apostólicos. Rejeitando a supremacia do papa e prelados, mantinham a Escritura Sagrada como a única autoridade suprema, infalível. Seus pastores, diferentes dos altivos sacerdotes de Roma, seguiam o exemplo de seu Mestre que “veio não para ser servido, mas para servir.” Alimentavam o rebanho de Deus, guiando-os às verdes pastagens e fontes vivas de Sua santa Palavra. Longe dos monumentos da pompa e orgulho humano, o povo congregava-se, não em igrejas suntuosas ou grandes catedrais, mas à sombra das montanhas nos vales alpinos, ou, em tempo de perigo, em alguma fortaleza rochosa, a fim de escutar as palavras da verdade proferidas pelos servos de Cristo. Os pastores não somente pregavam o evangelho, mas visitavam os doentes, doutrinavam as crianças, admoestavam aos que erravam e trabalhavam para resolver as questões e promover harmonia e amor fraternal. Em tempos de paz eram sustentados por ofertas voluntárias do povo; mas, como Paulo, o fabricante de tendas, cada qual aprendia um ofício ou profissão, mediante a qual, sendo necessário, proveria o sustento próprio.

   De seus pastores recebiam os jovens instrução. Conquanto se desse atenção aos ramos dos conhecimentos gerais, fazia-se da Escritura Sagrada o estudo principal. Os evangelhos de Mateus e João eram confiados à memória, juntamente com muitas das epístolas. Também se ocupavam em copiar as Escrituras. Alguns manuscritos continham a Bíblia toda, outros apenas breves porções, a que algumas simples explicações do texto eram acrescentadas por aqueles que eram capazes de comentar as Escrituras. Assim se apresentavam os tesouros da verdade durante tanto tempo ocultos pelos que procuravam exaltar-se acima de Deus.

   Mediante pacientes e incansáveis labores, por vezes nas profundas e escuras cavernas da Terra, à luz de archotes, eram copiadas as Escrituras Sagradas, versículo por versículo, capítulo por capítulo. Assim a obra prosseguia, resplandecendo, qual ouro puro, a vontade revelada de Deus; e quanto mais brilhante, clara e poderosa era por causa das provações que passavam por seu amor, apenas o poderiam compreender os que se achavam empenhados em obra semelhante. Anjos celestiais circundavam os fiéis obreiros.

   Satanás incitara sacerdotes e prelados a enterrarem a Palavra da verdade sob a escória do erro, heresia e superstição; mas de modo maravilhosíssimo foi ela conservada incontaminada através de todos os séculos de trevas. Não trazia o cunho do homem, mas a impressão divina. Os homens se têm demonstrado incansáveis em seus esforços para obscurecer o claro e simples sentido das Escrituras, e fazê-las contradizerem seu próprio testemunho; porém, semelhante à arca sobre as profundas águas encapeladas, a Palavra de Deus leva de vencida as borrascas que a ameaçam de destruição. Assim como tem a mina ricos veios de ouro e prata ocultos por sob a superfície, de maneira que todos os que desejam descobrir os preciosos depósitos devem cavar, assim as Sagradas Escrituras têm tesouros de verdade que são revelados unicamente ao ardoroso, humilde e devoto pesquisador. Deus destinara a Bíblia a ser um compêndio para toda a humanidade, na infância, juventude e idade madura, devendo ser estudada através de todos os tempos. Deu Sua Palavra aos homens como revelação de Si mesmo. Cada nova verdade que se divisa é uma nova revelação do caráter de seu Autor. O estudo das Escrituras é o meio divinamente ordenado para levar o homem a mais íntima comunhão com seu Criador e dar-lhe mais claro conhecimento de Sua vontade. É o meio de comunicação entre Deus e o homem.

   Conquanto os valdenses considerassem o temor do Senhor como o princípio da sabedoria, não eram cegos no tocante à importância do contato com o mundo, do conhecimento dos homens e da vida ativa, para expandir o espírito e avivar as percepções. De suas escolas nas montanhas alguns dos jovens foram enviados a instituições de ensino nas cidades da França ou Itália, onde havia campo mais vasto para o estudo, pensamento e observação, do que nos Alpes nativos. Os jovens assim enviados estavam expostos à tentação, testemunhavam o vício, defrontavam-se com os astuciosos agentes de Satanás, que lhes queriam impor as mais sutis heresias e os mais perigosos enganos. Mas sua educação desde a meninice fora de molde a prepará-los para tudo isto.

   Nas escolas aonde iam, não deveriam fazer confidentes a quem quer que fosse. Suas vestes eram preparadas de maneira a ocultar seu máximo tesouro — os preciosos manuscritos das Escrituras. A estes, fruto de meses e anos de labuta, levavam consigo e, sempre que o podiam fazer sem despertar suspeita, cautelosamente punham uma porção ao alcance daqueles cujo coração parecia aberto para receber a verdade. Desde os joelhos da mãe a juventude valdense havia sido educada com este propósito em vista; compreendiam o trabalho, e fielmente o executavam. Ganhavam-se conversos à verdadeira fé nessas instituições de ensino, e freqüentemente se encontravam seus princípios a penetrar a escola toda; contudo os chefes papais não podiam pelo mais minucioso inquérito descobrir a fonte da chamada heresia corruptora.

   O espírito de Cristo é espírito missionário. O primeiro impulso do coração regenerado é levar outros também ao Salvador. Tal foi o espírito dos cristãos valdenses. Compreendiam que Deus exigia mais deles do que simplesmente preservar a verdade em sua pureza, nas suas próprias igrejas; e que sobre eles repousava a solene responsabilidade de deixarem sua luz resplandecer aos que se achavam em trevas. Pelo forte poder da Palavra de Deus procuravam romper o cativeiro que Roma havia imposto.

   Os ministros valdenses eram educados como missionários, exigindo-se primeiramente de cada um que tivesse a expectativa de entrar para o ministério, aquisição de experiência como evangelista. Cada um deveria servir três anos em algum campo missionário antes de assumir o encargo de uma igreja em seu país. Este serviço, exigindo logo de começo renúncia e sacrifício, era introdução apropriada à vida pastoral naqueles tempos que punham à prova a alma. Os jovens que recebiam a ordenação para o sagrado mister, viam diante de si, não a perspectiva de riquezas e glória terrestre, mas uma vida de trabalhos e perigo, e possivelmente o destino de mártir. Os missionários iam de dois em dois, como Jesus enviara Seus discípulos. Cada jovem tinha usualmente por companhia um homem de idade e experiência, achando-se aquele sob a orientação do companheiro, que ficava responsável por seu ensino, e a cuja instrução se esperava que seguisse. Estes coobreiros não estavam sempre juntos, mas muitas vezes se reuniam para orar e aconselhar-se, fortalecendo-se assim mutuamente na fé.

   Tornar conhecido o objetivo de sua missão seria assegurar a derrota; ocultavam, portanto, cautelosamente seu verdadeiro caráter. Cada ministro possuía conhecimento de algum ofício ou profissão e os missionários prosseguiam na obra sob a aparência de vocação secular. Usualmente escolhiam a de mercador ou vendedor ambulante. “Levavam sedas, jóias e outros artigos, que naquele tempo não se compravam facilmente, a não ser em mercados distantes; e eram bem recebidos como negociantes onde teriam sido repelidos como missionários.” — Wylie. Em todo o tempo seu coração se levantava a Deus rogando sabedoria a fim de apresentar um tesouro mais precioso do que o ouro ou jóias. Levavam secretamente consigo exemplares da Escritura Sagrada, no todo ou em parte; quando quer que se apresentasse oportunidade, chamavam a atenção dos fregueses para os manuscritos. Muitas vezes assim se despertava o interesse de ler a Palavra de Deus, e alguma porção era de bom grado deixada com os que a desejavam receber.

   A obra destes missionários começava nas planícies e vales ao pé de suas próprias montanhas, mas estendia-se muito além destes limites. Descalços e com vestes singelas e poentas da jornada como eram as de seu Mestre, passavam por grande cidades e penetravam em longínquas terras. Por toda parte espalhavam a preciosa verdade. Surgiam igrejas em seu caminho e o sangue dos mártires testemunhava da verdade. O dia de Deus revelará rica colheita de almas enceleiradas pelos labores destes homens fiéis. Velada e silenciosa, a Palavra de Deus rompia caminho através da cristandade e tinha alegre acolhida nos lares e corações.

   Para os valdenses não eram as Escrituras simplesmente o registro do trato de Deus para com os homens no passado e a revelação das responsabilidades e deveres do presente, mas o desvendar dos perigos e glórias do futuro. Acreditavam que o fim de todas as coisas não estava muito distante; e, estudando a Bíblia com oração e lágrimas, mais profundamente se impressionavam com suas preciosas declarações e com o dever de tornar conhecidas a outros as suas verdades salvadoras. Viam o plano da salvação claramente revelado nas páginas sagradas e encontravam conforto, esperança e paz crendo em Jesus. Ao iluminar-lhes a luz o entendimento e ao alegrar-lhes ela o coração, anelavam derramar seus raios sobre os que se achavam nas trevas do erro papal.

   Viam que sob a direção do papa e sacerdotes, multidões em vão se esforçavam por obter perdão afligindo o corpo por causa do pecado da alma. Ensinados a confiar nas boas obras para se salvarem, estavam sempre a olhar para si mesmos, ocupando a mente com a sua condição pecaminosa, vendo-se expostos à ira de Deus, afligindo alma e corpo, não achando, contudo, alívio. Almas conscienciosas eram, assim, enredadas pelas doutrinas de Roma. Milhares abandonavam amigos e parentes, passando a vida nas celas dos conventos. Por meio de freqüentes jejuns e cruéis açoitamentos, por vigílias à meia-noite, prostrando-se durante horas cansativas sobre as lajes frias e úmidas de sua sombria habitação, por longas peregrinações, penitências humilhantes e terrível tortura, milhares procuravam inutilmente obter paz de consciência. Oprimidos por uma intuição de pecado e perseguidos pelo temor da ira vingadora de Deus, muitos continuavam a sofrer até que a natureza exausta se rendia e, sem um resquício de luz ou esperança, baixavam à sepultura.

   Os valdenses ansiavam por partir a estas almas famintas o pão da vida, revelar-lhes as mensagens de paz das promessas de Deus e apontar-lhes a Cristo como a única esperança de salvação. Tinham por falsa a doutrina de que as boas obras podem expiar a transgressão da lei de Deus. A confiança nos méritos humanos faz perder de vista o amor infinito de Cristo. Jesus morreu como sacrifício pelo homem porque a raça caída nada pode fazer para se recomendar a Deus. Os méritos de um Salvador crucificado e ressurgido são o fundamento da fé cristã. A dependência da alma para com Cristo é tão real, e sua união com Ele deve ser tão íntima como a do membro para com o corpo, ou da vara para com a videira.

   Os ensinos dos papas e sacerdotes haviam levado os homens a considerar o caráter de Deus, e mesmo o de Cristo, como severo, sombrio e repelente. Representava-se o Salvador tão destituído de simpatia para com o homem em seu estado decaído, que devia ser invocada a mediação de sacerdotes e santos. Aqueles cuja mente fora iluminada pela Palavra de Deus, anelavam guiar estas almas a Jesus, como seu compassivo e amante Salvador que permanece de braços estendidos a convidar todos a irem a Ele com seu fardo de pecados, seus cuidados e fadigas. Almejavam remover os obstáculos que Satanás havia acumulado para que os homens não pudessem ver as promessas, e ir diretamente a Deus, confessando os pecados e obtendo perdão e paz.

   Ardorosamente desvendava o missionário valdense as preciosas verdades do evangelho ao espírito inquiridor. Citava com precaução as porções cuidadosamente copiadas da Sagrada Escritura. Era a sua máxima alegria infundir esperança à alma conscienciosa, ferida pelo pecado, e que tão-somente podia ver um Deus de vingança, esperando para executar justiça. Com lábios trêmulos e olhos lacrimosos, muitas vezes com os joelhos curvados, expunha a seus irmãos as preciosas promessas que revelam a única esperança do pecador. Assim a luz da verdade penetrava muitas almas obscurecidas, fazendo recuar a nuvem sombria até que o Sol da Justiça resplandecesse no coração, trazendo saúde em seus raios. Dava-se amiúde o caso de alguma porção das Escrituras ser lida várias vezes, desejando o ouvinte que fosse repetida, como se quisesse assegurar-se de que tinha ouvido bem. Em especial se desejava, de maneira ávida, a repetição destas palavras: “O sangue de Jesus Cristo, Seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” 1 João 1:7. “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3:14, 15.

   Muitos não se iludiam em relação às pretensões de Roma. Viam quão vã é a mediação de homens ou anjos em favor do pecador. Raiando-lhes na mente a verdadeira luz, exclamavam com regozijo: “Cristo é meu Sacerdote; Seu sangue é meu sacrifício; Seu altar é meu confessionário.” Confiavam-se inteiramente aos méritos de Jesus, repetindo as palavras: “Sem fé é impossível agradar-Lhe.” Hebreus 11:6. “Nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.” Atos 4:12.

   A certeza do amor de um Salvador parecia, a algumas destas pobres almas agitadas pela tempestade, coisa por demais vasta para ser abrangida. Tão grande era o alívio que sentiam, tal a inundação de luz que lhes sobrevinha, que pareciam transportadas ao Céu. Punham confiantemente suas mãos na de Cristo; firmavam os pés sobre a Rocha dos séculos. Bania-se todo o temor da morte. Podiam agora ambicionar a prisão e a fogueira se desse modo honrassem o nome de seu Redentor.

   Em lugares ocultos era a Palavra de Deus apresentada e lida, algumas vezes a uma única alma, outras, a um pequeno grupo que anelava a luz e a verdade. Amiúde a noite toda era passada desta maneira. Tão grande era o assombro e admiração dos ouvintes que o mensageiro da misericórdia freqüentemente se via obrigado a cessar a leitura até que o entendimento pudesse apreender as boas novas da salvação. Era comum proferirem-se palavras como estas: “Aceitará Deus em verdade a minha oferta? Olhar-me-á benignamente? Perdoar-me-á Ele?” Lia-se a resposta: “Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei.” Mateus 11:28.

   A fé se apegava à promessa, ouvia-se a alegre resposta: “Nada mais de longas peregrinações; nada de penosas jornadas aos relicários sagrados. Posso ir a Jesus tal como estou, pecador e ímpio, e Ele não desprezará a oração de arrependimento. ‘Perdoados te são os teus pecados.’ Os meus pecados, efetivamente os meus, podem ser perdoados!”


   Enchia o coração uma onda de sagrada alegria, e o nome de Jesus era engrandecido em louvores e ações de graças. Estas almas felizes voltavam para casa a fim de difundir a luz, repetir a outros, tão bem quanto podiam, a nova experiência, de que acharam o Caminho verdadeiro e vivo. Havia um estranho e solene poder nas palavras das Escrituras, que falava diretamente ao coração dos que se achavam anelantes pela verdade. Era a voz de Deus e levava a convicção aos que ouviam.

   O mensageiro da verdade continuava o seu caminho; mas seu aspecto de humildade, sua sinceridade, ardor e profundo fervor, eram assuntos de observação freqüente. Em muitos casos os ouvintes não lhe perguntavam donde viera ou para onde ia. Ficavam tão dominados, a princípio pela surpresa e depois pela gratidão e alegria, que não pensavam em interrogá-lo. Quando insistiam com ele para os acompanhar a suas casas, respondia-lhes que devia visitar as ovelhas perdidas do rebanho. Não seria ele um anjo do Céu? indagavam.

   Em muitos casos não mais se via o mensageiro da verdade. Seguira para outros países, ou a vida se lhe consumia em algum calabouço desconhecido, ou talvez seus ossos estivessem alvejando no local em que testificara da verdade. Mas as palavras que deixara após si, não poderiam ser destruídas. Estavam a fazer sua obra no coração dos homens; os benditos resultados só no dia do juízo se revelarão plenamente.

   Os missionários valdenses estavam invadindo o reino de Satanás, e os poderes das trevas despertaram para maior vigilância. Todo esforço para avanço da verdade era observado pelo príncipe do mal, e ele excitava os temores de seus agentes. Os chefes papais viram grande perigo para a sua causa no trabalho destes humildes itinerantes. Se fosse permitido à luz da verdade resplandecer sem impedimento, varreria as pesadas nuvens de erro que envolviam o povo; haveria de dirigir o espírito dos homens a Deus unicamente, talvez destruindo, afinal, a supremacia de Roma.

   A própria existência deste povo, mantendo a fé da antiga igreja, era testemunho constante da apostasia de Roma, e portanto excitava o ódio e perseguição mais atrozes. Sua recusa de renunciar às Escrituras era também ofensa que Roma não podia tolerar. Decidiu-se ela a exterminá-los da Terra. Começaram então as mais terríveis cruzadas contra o povo de Deus em seus lares montesinos. Puseram-se inquisidores em suas pegadas, e a cena do inocente Abel tombando ante o assassino Caim repetia-se freqüentemente.

   Reiteradas vezes foram devastadas as suas férteis terras, destruídas as habitações e capelas, de maneira que onde houvera campos florescentes e lares de um povo simples e laborioso, restava apenas um deserto. Assim como o animal de rapina se torna mais feroz provando sangue, a ira dos sectários do papa acendia-se com maior intensidade com o sofrimento de suas vítimas. Muitas destas testemunhas da fé pura foram perseguidas através das montanhas e caçadas nos vales em que se achavam escondidas, encerradas por enormes florestas e cumes rochosos.

   Nenhuma acusação se poderia fazer contra o caráter moral da classe proscrita. Mesmo seus inimigos declaravam serem eles um povo pacífico, sossegado e piedoso. Seu grande crime era não quererem adorar a Deus segundo a vontade do papa. Por tal crime, toda humilhação, insulto e tortura que homens ou diabos podiam inventar, amontoaram-se sobre eles.

   Determinando-se Roma a exterminar a odiada seita, uma bula foi promulgada pelo papa, condenando-os como hereges e entregando-os ao morticínio. Não eram acusados como ociosos, desonestos ou desordeiros; mas declarava-se que tinham uma aparência de piedade e santidade que seduzia “as ovelhas do verdadeiro aprisco.” Portanto ordenava o papa que “aquela maligna e abominável seita de perversos”, caso se recusasse a renunciar, “fosse esmagada como serpentes venenosas.” — Wylie. Esperava o altivo potentado ter de responder por estas palavras? Sabia que estavam registradas nos livros do Céu, para lhe serem apresentadas no juízo? “Quando o fizestes a um destes Meus pequeninos irmãos”, disse Jesus, “a Mim o fizestes.” Mateus 25:40.

   Essa bula convocava a todos os membros da igreja para se unirem à cruzada contra os hereges. Como incentivo para se empenharem na obra cruel, “absolvia de todas as penas e castigos eclesiásticos, gerais e particulares; desobrigava a todos os que se unissem à cruzada, de qualquer juramento que pudessem ter feito; legitimava-lhes o direito a qualquer propriedade que pudessem ter ilegalmente adquirido; e prometia remissão de todos os pecados aos que matassem algum herege. Anulava todos os contratos feitos em favor dos valdenses, ordenava que seus criados os abandonassem, proibia a toda pessoa dar-lhes qualquer auxílio que fosse e a todos permitia tomar posse de sua propriedade.” — Wylie. Este documento revela claramente o espírito que o ditou. É o bramido do dragão, e não a voz de Cristo, que nele se ouve.

   Os dirigentes papais não queriam conformar seu caráter com a grande norma da lei de Deus, mas erigiram uma norma que lhes fosse conveniente, e decidiram obrigar todos a se conformarem com a mesma porque Roma assim o desejava. As mais horríveis tragédias foram encenadas. Sacerdotes e papas corruptos e blasfemos estavam a fazer a obra que Satanás lhes designava. A misericórdia não encontrava guarida em sua natureza. O mesmo espírito que crucificou Cristo e matou os apóstolos, o mesmo que impulsionou o sanguinário Nero contra os fiéis de seu tempo, estava em operação a fim de exterminar da Terra os que eram amados de Deus.

   As perseguições desencadeadas durante muitos séculos sobre este povo temente a Deus, foram por ele suportadas com uma paciência e constância que honravam seu Redentor. Apesar das cruzadas contra eles e da desumana carnificina a que foram sujeitos, continuavam a mandar seus missionários a espalhar a preciosa verdade. Eram perseguidos até à morte; contudo, seu sangue regava a semente lançada, e esta não deixou de produzir fruto. Assim os valdenses testemunharam de Deus, séculos antes do nascimento de Lutero. Dispersos em muitos países, plantaram a semente da Reforma que se iniciou no tempo de Wycliffe, cresceu larga e profundamente nos dias de Lutero, e deve ser levada avante até ao final do tempo por aqueles que também estão dispostos a sofrer todas as coisas pela “Palavra de Deus, e pelo testemunho de Jesus Cristo.” Apocalipse 1:9. (O Grande Conflito, p. 61-78, de Ellen Gould White)





Hoje muitos séculos se passaram, mas o sangue destes mártires da verdade clama desde a terra, sabemos que biblicamente um dia Deus lhes dará a sua recompensa, assim como também seus executores serão levados perante o Tribunal Divino.

"De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem. Porque Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más."
Eclesiástes 12:13 e 14

"E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo..."
Hebreus 9:27

"Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo."
2 Coríntios 5:10





Seja fiel à Bíblia

Até a própria vida não deve ser comprada pelo preço da falsidade. Por uma simples palavra ou um aceno, os mártires poderiam ter negado a verdade e salvado a própria vida. Consentindo em lançar um simples grão de incenso sobre o altar idólatra poderiam ter se salvado da tortura, do cadafalso ou da cruz. Mas eles recusaram usar de falsidade tanto por palavras como por atos, apesar da vida ser a graça que poderiam receber em troca. Eles consideravam bem-vindas prisão, tortura e morte, com consciência limpa, em vez de libertação através de engano, falsidade e apostasia. Por fidelidade e fé em Cristo eles obtiveram vestes imaculadas e coroas adornadas. Sua vida foi enobrecida e elevada à vista de Deus, porque permaneceram firmes ao lado da verdade sob as mais adversas circunstâncias. (Testemunhos para a Igreja 4, p. 336, de Ellen Gould White)

"Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham."
Apocalipse 14:13

Que "o Senhor te abençoe e te guarde, o Senhor faça resplandecer o Seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o Senhor levante sobre ti o Seu rosto, e te dê a paz."
Números 6:24-26





PARA REFLEXÃO

Por esse tempo (ver aqui) chegaram a Praga dois estrangeiros da Inglaterra, homens de saber, que tinham recebido a luz, e haviam chegado para espalhá-la naquela terra distante. Começando com um ataque aberto à supremacia do papa, foram logo pelas autoridades levados a silenciar; mas, não estando dispostos a abandonar seu propósito, recorreram a outras medidas. Sendo artistas, bem como pregadores, prosseguiam pondo em prática a sua habilidade. Em local franqueado ao público pintaram dois quadros. Um representava a entrada de Cristo em Jerusalém, “manso, e assentado sobre uma jumenta” (Mateus 21:5), e seguido de Seus discípulos, descalços e com trajes gastos pelas viagens. O outro estampava uma procissão pontifical: o papa adornado com ricas vestes e tríplice coroa, montando cavalo, magnificamente adornado, precedido de trombeteiros, e seguido pelos cardeais e prelados em deslumbrante pompa.

Ali estava um sermão que prendeu a atenção de todas as classes. Multidões vieram contemplar os desenhos. Ninguém deixara de compreender a moral, e muitos ficaram profundamente impressionados pelo contraste entre a mansidão e humildade de Cristo, o Mestre, e o orgulho e arrogância do papa, Seu servo professo. Houve grande comoção em Praga, e os estrangeiros, depois de algum tempo, acharam necessário partir, para sua própria segurança. Mas a lição que haviam ensinado não ficou esquecida. Os quadros causaram profunda impressão no espírito de Huss, levando-o a um estudo mais acurado da Bíblia e dos escritos de Wycliffe. Embora ainda não estivesse preparado para aceitar todas as reformas defendidas por Wycliffe, via mais claramente o verdadeiro caráter do papado, e com maior zelo denunciava o orgulho, a ambição e corrupção da hierarquia. 
(O Grande Conflito, p. 99, 100, de Ellen Gould White)





PARA REFLEXÃO